Folha de S. Paulo


O clássico do fracasso

São Paulo e Palmeiras fazem o clássico da crise. A palavra mais gasta do futebol nacional, neste caso, não se aplica só a são-paulinos e palmeirenses, mas à semana com três empates e duas derrotas dos cinco representantes do país na Libertadores.

Só não dá para dizer que esta foi a semana mais boliviana da história do Brasil, porque a Bolívia tem três representantes e o ranking sul-americano ainda oferece cinco vagas para o país cuja capital é Brasília.

Desde que a Libertadores passou a oferecer cinco vagas, só há registro de uma rodada completa numa mesma data sem vitória dos clubes daqui. Na noite de 4 de abril de 2011, Grêmio, Internacional, Fluminense e Cruzeiro foram eliminados com derrotas para Universidad Católica, Peñarol, Libertad e Once Caldas. Na véspera, o Santos avançou com empate em 0 a 0 com o América do México.

O remédio para a crise está na ponta da língua: demitir o técnico.

Minutos após a derrota do Palmeiras para o Nacional, o diretor-executivo Alexandre Mattos anunciou a saída de Marcelo Oliveira. A medida foi sucesso de público e crítica, aplaudida na torcida e na imprensa.

É difícil mesmo defender a permanência de Marcelo Oliveira, com 18 derrotas em 53 partidas, sete delas dentro do Allianz Parque. Ao mesmo tempo, os aplausos à demissão revelam nossa contradição.

Falamos sobre a supervalorização de treinadores. Ganham muito, rendem pouco... e quando o time perde, apontamos o dedo a quem? O técnico!

Oliveira saiu de modo consensual, porque é incrível a facilidade com que todos nós, torcedores, jornalistas, dirigentes -até os treinadores! - temos certeza do remédio. Demite-se o técnico como quem toma Novalgina para abaixar a febre.

O Brasil exporta jogadores o ano todo, os elencos mudam a cada seis meses e a única opção para ter um time coeso é manter uma ideia. Argentinos, colombianos e uruguaios demitem, mas mantêm o jeito de jogar. Por isso seus times são melhores do que os brasileiros, não por terem jogadores mais talentosos.

Aqui o novo técnico é um escudo. Precisa ser um nome imponente, que dê impacto e proteja a incompetência. Com o novo técnico, muda o estilo de jogo, o sistema de cobertura na defesa, a decisão de priorizar a transição rápida ou a posse de bola, o jeito de jogar...

Desde o tri brasileiro, o São Paulo teve dez treinadores. O Palmeiras está na décima escolha também. O Atlético-MG teve nove, e o Grêmio, 11! O Corinthians é a exceção.

O problema não é nacionalidade. Fracassaram aqui Passarella, Jorge Fossatti, Gareca, Lotthar Matthäus, Miguel Angel Portugal, Juan Carlos Osorio pediu demissão cedo demais. Quinta, perguntava-se se Edgardo Bauza seria pressionado se perdesse para o River Plate.

É a nossa cultura, da arquibancada ao microfone. Todos pensamos na mudança na terceira derrota, sem pensar em levar o trabalho até não alcançar a meta mínima. No caso de Marcelo Oliveira, até a eliminação na fase de grupos da Libertadores, vexame pelo qual o Palmeiras não passa desde 1979 -o São Paulo desde 1987.

Os técnicos fracassam e vão fracassar sempre. Porque o fracasso de não entender o futebol coletivo de hoje é nosso.


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