Folha de S. Paulo


Brasileirão três em um

Uma proposta de mudança do Campeonato Brasileiro está em curso. É incipiente e está tão nos bastidores a ponto de ser difícil dizer se discute-se nos corredores da CBF ou da Primeira Liga. Mas a ideia é criativa, a primeira de fato inteligente entre todas aquelas já apresentadas pelos órfãos do mata-mata.

Especialmente porque não mexe na fórmula de disputa do Brasileirão e mantém turno e returno com pontos corridos. Só aumenta a disputa dentro dos turnos.

O pai da ideia é o presidente do Atlético-MG, Daniel Nepomuceno, que deve participar da comissão do calendário no comitê de reforma da CBF.

Pela sua sugestão, o campeão brasileiro continuará sendo o melhor na soma dos dois turnos, mas as vagas na Libertadores seriam divididas de outro modo: uma para o campeão brasileiro, uma para o vice, uma para o vencedor do primeiro turno, outra para quem chegar na frente no returno.

O campeão brasileiro não ganhou o segundo turno em três das últimas cinco edições. Só o Corinthians no ano passado e o Cruzeiro em 2013 ganharam o turno, o returno e consequentemente o campeonato.

A proposta mudaria pouca coisa em relação às classificações para a Libertadores dos últimos anos. Fluminense, São Paulo e Corinthians, campeões do returno em 2011, 2012 e 2014, disputaram o torneio continental no ano seguinte.

Mas a percepção de que um clube de menor investimento, sem fôlego para ganhar a temporada toda, tem chance de vencer a metade do torneio, pode dar outra vida à disputa. "É preciso admitir que o Brasileirão às vezes se torna uma chatice", diz Nepomuceno.

Não é verdade.

Mas a percepção do presidente do Atlético-MG é igual à de muita gente que deixa de olhar para o campeonato quando ele parece decidido. Digamos que é preciso admitir que muita gente acha uma chatice.

E que a briga pelo turno pode fazer clubes como Sport, Vitória e Santa Cruz sonharem com a vaga na Libertadores pela conquista do primeiro turno.

Nas últimas semanas, Nepomuceno discutiu isso apenas com executivos de televisão. Também participou da reunião da liga sul-americana e deixou claro ao presidente do Boca Juniors, Daniel Angelicci, o compromisso de ter mais uma vaga para brasileiros e para argentinos no torneio continental.

Se isso avançar, a sugestão é voltar ao sistema de 2001, quando uma vaga na Libertadores ia para o vencedor da Copa dos Campeões. Na nova versão, disputariam o torneio os campeões paulista, da Copa Sul-Minas-Rio, da Copa do Nordeste e Copa Verde.

Uma chance para diminuir a percepção de vazio no lado oeste do país. De ter um mapa do futebol brasileiro que não se pareça com o Tratado de Tordesilhas.

As ideias são boas. Mas não adianta nada ir apenas para o comitê de reforma da CBF. A novidade da semana é que a Primeira Liga avançou seus passos e pediu a chance de organizar o Brasileirão a partir de 2017. Ela não precisa acolher as sugestões de Nepomuceno. Dialogar, sim. Sempre é bom.

O Brasileirão três em um não é solução. Mas pode ajudar as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste a terem chance de entrar no mapa e aumentar a emoção para quem não gosta dos pontos corridos pura e simplesmente.


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