Folha de S. Paulo


A casa dos outros

A camisa comemorativa usada pelos jogadores depois do título da Copa do Brasil do Palmeiras, em 2015, dizia: "Quem manda na minha casa sou eu!"

Não manda.

Já são 39 partidas no Allianz Parque, em jogos oficiais e com mando do Palmeiras, e o time não venceu 17. A cada dez presenças na sua casa, não ganha quatro.

Contra a Ferroviária, sofreu a nona derrota e são também sete empates. O Corinthians perdeu só quatro vezes em 57 jogos em Itaquera.

Com Marcelo Oliveira, o índice é pior ainda. O técnico campeão da Copa do Brasil sentou-se no banco de reservas no Allianz Parque 22 vezes e não ganhou nove –42%.

A Ferroviária não jogava no estádio do Palmeiras desde a primeira rodada do Campeonato Paulista de 1996, velho Parque Antarctica.

Aquele time de Djalminha, Rivaldo, Luizão e Muller enfiou 6 a 1 no adversário de Araraquara. Terminou o Paulistão com 102 gols em 30 jogos. Na campanha, disputou 13 partidas em casa. Ganhou todas e marcou 51 vezes.

Não há nível de comparação e a lembrança só existe porque aquele título começou contra a Ferroviária. É também onde pode se iniciar a derrocada de Marcelo Oliveira.

Timaço, histórico, aquele Palmeiras ganhou só o Estadual e deixou um gosto de quero mais.

Este já é campeão da Copa do Brasil e reestreará na Libertadores como mandante na quinta-feira. Mas não convence. A Ferroviária que venceu por 2 a 1 neste domingo (28), no Allianz Parque, é forte. O Rosario Central é bem melhor.

Ou seja, o risco é perder de novo na quinta (3) e isso pode desestabilizar de uma vez por todas o trabalho de Marcelo Oliveira.

O treinador já aceitou algumas críticas e mudou o sistema tático nas últimas partidas. "Eu faço o losango pelo lado esquerdo", diz Robinho. O meia ficou satisfeito com seu novo posicionamento e deixou isso evidente depois da vitória por 4 a 1 sobre o XV de Piracicaba. Atuou na mesma posição contra a Ferroviária. Não funcionou.

O que falta ao Palmeiras é a capacidade de fazer o adversário render-se a seu estilo. Mesmo se for o contra-ataque, o rival precisa sofrer com as jogadas de velocidade.

Só que o Palmeiras não tem estilo. Contra a Ferroviária, entregou-se à maior capacidade de trocar passes do adversário e terminou a partida com 41% de posse de bola
Gabriel Jesus errou dez passes, Robinho deveria ser o articulador da equipe, mas desperdiçou oito passes e perdeu a bola sete vezes. Não pode.

Neste ano, só houve três jogos razoáveis da equipe de Marcelo Oliveira. As três como visitante, nas duas vitórias contra Botafogo, em Ribeirão Preto, e XV, em Piracicaba. E no empate por 2 a 2 contra o River Plate, em Maldonado.

Fora de casa, o Palmeiras tem mais chance de entregar o controle da bola ao adversário sem se incomodar com a pressão da arquibancada. Só que os dois próximos jogos da Libertadores são contra rivais fortes e dentro do Allianz Parque.

Em casa, historicamente, o ritmo do Palmeiras não é do contra-ataque. É da troca de passes e infiltrações. Era o que fazia aquele Palmeiras de Luxemburgo de 1996. Aquele que só ganhou o Paulista.

A missão do time derrotado em casa para o Linense e para a Ferroviária certamente não é vencer o Estadual. Só que para ganhar a Libertadores pela segunda vez na sua história, vai ter de melhorar muito.

Editoria de Arte/Folhapress

FESTA DO INTERIOR

Há muito tempo o Paulistão não era assim. A cada três jogos de um grande contra um pequeno, um termina com ponto ganho pela equipe do interior. Pode apostar que é porque alguns dos pequenos estão melhores do que antes.

NEM TODOS

Entre eles, a Ferroviária, comandada pelo técnico português Sérgio Vieira, o Ituano, dirigido por Juninho Paulista, e o São Bento. Neste século, só quatro vezes os quatro melhores do Campeonato Paulista foram os quatro grandes.


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