Folha de S. Paulo


Pires na mão

O Corinthians aceitou receber 25% a menos de seu contrato de TV aberta, até 2018, para assinar novo acordo até 2024 e receber adiantamento de R$ 40 milhões.

O São Paulo não topou. Vai receber R$ 60 milhões de luvas –não é empréstimo– e terá garantia de equiparação com Flamengo e Corinthians.

Isso porque a Rede Globo fará rateio do dinheiro semelhante à Inglaterra: 40% igualmente para todos os times, 30% por performance, 30% por exposição. Com as luvas do novo contrato, o São Paulo aproximará o valor que recebe dos ganhos de Flamengo e Corinthians.

Em outras palavras, não haverá a temida espanholização do futebol brasileiro, com Flamengo e Corinthians ganhando muito mais do que todos os outros. O equilíbrio aumenta, mas não para todo mundo.

Ainda há muita gente insatisfeita. Santos, Internacional e Atlético-PR são alguns dos clubes felizes com a proposta do Esporte Interativo. Flamengo e Palmeiras não se encantam com proposta nenhuma neste momento. Esperam os sinais do mercado e aguardam 2018 para assinar novo compromisso, como e com quem quiserem.

"O fato de não termos assinado agora com a Globo não significa que não podemos assinar antes de 2018", diz o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello. Paulo Nobre é mais taxativo. O contrato vai até 2018, então o diálogo só precisa acontecer lá na frente.

Só existe uma razão para alguns clubes terem estratégia diferente de Flamengo e Palmeiras: pires na mão. Está difícil para todo mundo, até para a Globo, que pediu a diminuição de 25% do contrato em vigência para quem quisesse adiantar a receita do novo acordo, que estará em vigência entre 2019 e 2024.

Só aceitou quem precisava muito do dinheiro: Atlético-MG, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Sport, Vasco e Vitória. De todos, quem sofrerá menos será o Corinthians, porque recebe mais.

O Botafogo verá a diferença para o Flamengo aumentar ainda mais. Enquanto o rubro-negro recebe perto de R$ 120 milhões/ano, o Botafogo vai diminuir 25% sua receita e cair para R$ 35 milhões anuais, aproximadamente.

Nesta briga entre os que ganham muito e o bloco da pindaíba, quem trabalha bem é o Internacional. Dono de R$ 47 milhões de receita de TV, o Inter não renovou com a Globo e faz mais dinheiro do que isso com seu projeto de sócio-torcedor: R$ 62 milhões por ano. "Quem não é o maior precisa ser o melhor", diz o presidente Vittorio Píffero.

Em 2003, o Internacional turbinou seu plano de sócios e alcançou a receita que o Corinthians fazia com seu patrocínio master: R$ 25 milhões por ano, naquela época. O mercado gaúcho era muito menor do que o paulista, e os torcedores ajudaram a equilibrar a disputa.

Hoje, o Inter recebe mais dinheiro de seu plano de sócios do que da televisão. O plano do Palmeiras é fazer o mesmo.

O programa Avanti supera R$ 30 milhões, bem longe dos ganhos da televisão. Mas somando o dinheiro da bilheteria, as arquibancadas do Allianz Parque dão mais receita do que a exposição na sua telinha.

Não é a ideia de ninguém sobreviver sem Rede Globo, Esporte Interativo e quem mais chegar. Bom será quando todos os clubes tiverem autonomia para assinar o melhor contrato, na hora que quiserem e sem depender de ninguém.


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