Folha de S. Paulo


Manter e transformar

Edgardo Bauza tem em seu elenco todos os titulares escalados na goleada por 6 x 1, em novembro. Nenhum foi embora. O São Paulo perdeu referências como Rogério Ceni e Luís Fabiano, não tem mais Alexandre Pato, mas nenhum dos três esteve na Arena do Corinthians na maior goleada da história do clássico Majestoso.

O Corinthians é diferente. Nove reservas daquela época massacraram o São Paulo. Só Ralf e Edu Dracena não são mais corintianos.

Mas seis titulares campeões brasileiros foram embora. São só cinco iguais à vitória por 2 x 0 na estreia da fase de grupos da Libertadores, um ano atrás: Cássio, Fágner, Felipe e Elias.

Bauza tem a continuidade e trabalha pela mudança. Seu estilo é antagônico ao de Osorio.

Tite sofreu o desmanche e pretende a continuidade. Quer o mesmo sistema, o mesmo jeito de jogar.

Na chegada de cada um dos novos contratados, Tite conversa e apresenta vídeos. Explica o desenho do 4-1-4-1 de 2015. Pensa em Giovanni Augusto pela direita, no lugar de Jadson. Guilherme por dentro, na vaga de Renato Augusto.

O técnico sabe que levará tempo para a engrenagem voltar a funcionar. "O que entristeceu foi a percepção de que andamos para trás", disse Tite sobre a necessidade de remontar a equipe e fazer cada jogador entender como tudo funciona.

Bauza é definitivo sobre qual defeito não admite em suas equipes: "Desordem!" Há três meses, o elenco do São Paulo elogiava unanimemente os métodos de Juan Carlos Osorio. Era super ofensivo.

Hoje, jogadores como Alan Kardec e o goleiro Dênis afirmam que o São Paulo do ano passado era muito exposto. Havia momentos em que três zagueiros marcavam três atacantes.

O elenco elogia Bauza por priorizar a organização.

O pedido do vice-presidente de futebol, Ataíde Gil Guerreiro, ao contratar o técnico duas vezes campeão da Libertadores foi: jogue ofensivamente.

Bauza concordou.

E seu único pedido neste momento é a contratação de um... zagueiro.

Não é tão importante ganhar o primeiro clássico do Campeonato Paulista quanto construir a base para o ano todo. Tanto no Corinthians quanto no São Paulo há dificuldades para conseguir isso.

É mais fácil dar padrão de jogo a um elenco mantido com mudança de técnico? Ou a um técnico que permanece, mas perde o elenco?

A segunda hipótese é menos ruim.

Tite e Bauza divergem sobre isso. Bauza explica:

"O trabalho no São Paulo é diferente do San Lorenzo, porque lá assumi um time montado e campeão argentino", diz Bauza, sobre a herança recebida de seu antecessor, Juan Antonio Pizzi.

Tite para e pensa. Num país onde se vendem tantos jogadores, manter a filosofia ajuda muito.

Corinthians e São Paulo pensam diferente, mas ambos sabem o que querem. O clássico opõe a continuidade corintiana contra a transformação são-paulina. Ter paz para seguir com as ideias depende do resultado de hoje.

O RECOMEÇO

O livro "Das Reboot", do jornalista alemão Raphael Hongstein, conta a reconstrução da seleção campeã mundial no Brasil. Durante a Eurocopa de 2004, uma frase de Michael Ballack define tudo: "Queriam que eu recuperasse a bola, organizasse o meio-de-campo, lançasse para mim mesmo e marcasse o gol."

Qualquer semelhança com o que se espera de Neymar não é mera coincidência.


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