Folha de S. Paulo


A paz no campo

Carlos Augusto de Barros e Silva, o presidente Leco, recebeu parte da imprensa para um café da manhã na quinta-feira. Numa parte da conversa, alguns repórteres falavam sobre a semelhança da vida política são-paulina atual com o que acontecia anos atrás com Palmeiras e Corinthians. Leco ouviu a todos silenciosamente e resumiu-se a uma observação: "Isso está começando a mudar."

Pode ser mais esperança do que realidade, especialmente levando em conta a divulgação da gravação do diálogo em que Carlos Miguel Aidar sugere a Ataíde Gil Guerreiro dividir uma comissão indevida.

O bicho ainda vai pegar nas reuniões do conselho.

Durante a semana, em meio às entrevistas de Aidar atirando para todos os lados e acertando inocentes e às discussões no Conselho Deliberativo, onde há quem tente transformar o acusador em acusado, havia uma única coisa a fazer: virar a página.

O São Paulo fez isso assim que pôde divulgar o nome de Edgardo Bauza como novo treinador. Duas vezes campeão da Libertadores, uma pela LDU, outra pelo San Lorenzo, vice-campeão da Copa Conmebol pelo Rosario Central, contra o Santos, em 1998, Bauza tem currículo e experiência na competição que o São Paulo mais deseja voltar a vencer.

A escolha levou em conta o desejo de não fazer mais do mesmo. Duas semanas atrás, um dos dirigentes envolvidos na contratação disse que não queria recorrer a nomes como Cuca ou Levir Culpi. Não por considerá-los ruins, mas por julgar que seria voltar a experiências que o São Paulo já teve.

Houve conversa com Marcelo Bielsa, mas a escolha por Bauza pautou-se no desejo de ter um time moderno e atualizado com o que a competição sul-americana exige. Bauza foi vice-campeão argentino pelo San Lorenzo com a melhor defesa desta temporada.

E a maior exigência feita ao treinador é que monte uma equipe capaz de jogar no ataque. Parece uma contradição, mas não é. Um time organizado sofre poucos gols, mesmo sendo ofensivo.

Não fazer mais do mesmo não parece exclusividade são-paulina. Dos 12 maiores clubes do Brasil, oito começarão o ano com treinadores que não estavam nesse círculo há cinco anos. Os sobreviventes são Tite, Muricy, Dorival e Ricardo Gomes.

Os outros, Marcelo Oliveira, Roger Machado, Argel Fucks, Eduardo Baptista, Jorginho, Diego Aguirre, Deivid e Bauza não frequentavam os bancos dos gigantes do Rio, São Paulo, Minas e Porto Alegre há cinco temporadas.

Divulgar Edgardo Bauza na quinta-feira faz o São Paulo conversar, a partir de agora, sobre o time que precisa se estruturar para ser forte em 2016. Nas mesas das famílias são-paulinas no Natal e no Réveillon, serão discutidos menos dirigentes e mais jogadores.

O clima vai esquentar mesmo na primeira reunião do Conselho Deliberativo de 2016. Ali a vida do clube será debatida de maneira tão estreita como se fosse uma reunião de condomínio. São 12 facções olhando para seu próprio umbigo, sem a grandeza de entender o momento do clube que representa quase 20 milhões de torcedores.

Nem sempre a política atrapalha o futebol. O ano de 2016 confirma isso. O São Paulo fez tudo para dar errado e vai começar o novo ano na Libertadores e com um técnico que a venceu por duas vezes. A chance de dar certo voltou a existir.


Endereço da página:

Links no texto: