Folha de S. Paulo


Longe do sofá

Dátolo adiou o grito do Corinthians, quase no final da partida contra o Figueirense, em Florianópolis. Agora, os dez dias -no mínimo- que restam para a homologação do sexto título corintiano oferecem tempo para acertar o nível exato da análise sobre o que aconteceu com o virtual campeão de 2015.

O Corinthians de 2016 é um time brilhante. Pode ser o melhor da história dos pontos corridos e bastam mais cinco pontos para superar a marca de 80 do Cruzeiro de 2013.

O melhor da história... dos pontos corridos.

Isto está aqui ressaltado, porque na semana passada já se ouviu quem perguntasse se é verdade que este Corinthians será o melhor campeão brasileiro de todos os tempos.

Não! Isso, não!

O Brasil é um país tão sem história que é difícil até definir quando começa seu campeonato, desde que a CBF resolveu unificar os campeões da Taça Brasil e do Robertão com os ganhadores a partir de 1971. Concorde ou não, a lista de vencedores passou a incluir o Santos de Pelé.

Mas se você preferir não contar o período Taça Brasil e Robertão, ainda assim é importante lembrar casos de times espetaculares. Único campeão invicto depois de 1971 -Santos e Palmeiras também venceram sem derrotas nos anos 60-, o Internacional disputou 22 partidas e teve 78% de aproveitamento para ganhar a taça de 1979.

Claro que era diferente.

Naquele ano, a simultaneidade dos torneios estaduais e nacional fez com que Corinthians, Santos e São Paulo preferissem não disputar o Brasileirão.

Mesmo que participassem, o Inter não enfrentaria todos os rivais em sistema de ida e volta, como acontece desde 2003. Isso aumenta a dificuldade da comparação.

Só que aquele Internacional tinha Falcão em estado de graça, Mário Sérgio em sua melhor forma técnica e o técnico Ênio Andrade, referência de 100% dos ex-jogadores que atuaram sob seu comando.

No ano seguinte, o Flamengo de Cláudio Coutinho venceu e preparou terreno para a equipe mais técnica que já venceu o Brasileiro. Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico formaram a base campeã de 1982, com 73% de aproveitamento.

O Corinthians pode ser melhor em números do que aquele rubro-negro. Mas não será mais espetacular para quem viu aqueles onze jogadores juntos, a olho nu -sem as estatísticas.

É sempre difícil fazer esse tipo de comparação, porque misturam-se a memória afetiva, o olho mágico do garoto que tinha 12 anos quando viu aquele Flamengo -e nunca tinha visto nada igual, até porque a idade não permitia- e o senso crítico de quem assistiu a todos os campeões de lá para cá.

Mas há questões que tornam essa comparação mais objetiva. Naquela época, o Brasil exportava pouco e os principais jogadores brasileiros disputavam o Brasileirão.

Hoje, questiona-se se o fato de Renato Augusto e Jadson disputarem um campeonato irretocável no Brasil torna-os capazes de serem titulares da seleção e disputar jogos contra atletas inquestionáveis na Europa.

O Corinthians não jogou bem contra o Coritiba, mas será campeão contra o Vasco ou contra o São Paulo. O brilho de sua campanha merece uma festa completa em vez de ser campeão no sofá. Só não vale atropelar a história. O Corinthians pode ser recordista dos pontos corridos. Não o melhor de todos os tempos.

ANTOLÓGICO

Neymar teve uma atuação de gala na véspera de sua apresentação à seleção para os jogos pelas eliminatórias. Não só pelo gol de cinema. Vibrou na intensidade que o jogo pediu e até o primeiro gol que marcou foi especial: dominou e finalizou com o pé esquerdo, apesar de ser destro.

A REFORMA

O Palmeiras disputou 35 partidas no Allianz Parque desde sua inauguração, e perdeu sete vezes -uma a cada cinco apresentações. O adiamento da final da Copa do Brasil deu uma chance de recuperação para a equipe. Mas, se não melhorar, o Santos vai atropelar em qualquer data.


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