Folha de S. Paulo


A solução do Palmeiras

Entre os felizes proprietários de novos estádios do Brasil, o Corinthians tem o melhor retrospecto. Perdeu quatro de seus 49 jogos, um a cada doze. O Grêmio perde um a cada seis, o Palmeiras cai uma vez a cada cinco jogos, como demonstram as derrotas para Goiás, Atlético-PR e Ponte Preta neste Brasileirão.

A comparação com o Grêmio não tem semelhança só no retrospecto esportivo. O clube gaúcho pode ser hoje o modelo para o Palmeiras sair da tumultuada parceria com a W. Torre, que foi parar na comissão de arbitragem e provoca temor de dificultar a propriedade do estádio em caso –pouco provável– de falência da construtora.

O noticiário já contou como a W. Torre contraiu dívidas com fornecedores. O Palmeiras não se pronuncia sobre os problemas da parceira, mas é certo que a dívida da construtora alcança os R$ 150 milhões.

Importante fazer a separação. O Allianz Parque é um sucesso e produz mais dinheiro do que se imaginava antes da inauguração. Só que a estratégia de financiamento da W. Torre, amplificada pela crise econômica e pela operação Lava Jato, compromete sua estabilidade. Suas dívidas também atrapalham o estádio a ter novos contratos.

A situação era semelhante entre o Grêmio e a OAS, com a agravante de que o clube gaúcho precisava pagar em média R$ 1,5 milhão mensais pelo financiamento do estádio –o Palmeiras não paga nada e devolve o dinheiro abrindo mão de receitas dos shows.

Um belo dia, o CEO do Grêmio decidiu montar uma estratégia para comprar a dívida da OAS, que aumentava dia após dia por causa dos juros. Foi aos bancos credores e se propôs a comprar a dívida pelo valor original. Um dos banqueiros rejeitou a proposta, outro topou.

Até dezembro, o Grêmio será o feliz proprietário de seu novo estádio, sem sócio nem dor de cabeça.

Ainda não está em curso nenhuma operação semelhante com o Allianz Parque. O Palmeiras não tem prestação a pagar e seu único problema é a relação difícil com seu sócio. Está clara a necessidade de criar um modelo para o estádio diferente do que existe no Brasil.

O Palmeiras não pode ser um clube que tem um estádio. O Allianz Parque tem de ser o estádio que tem um clube.

Em outras palavras, ter como conteúdo os shows dos principais artistas do planeta e os jogos do melhor time do Brasil. Quem vai montá-lo? Os parceiros –Dilletto, Palmeiras, AEG, Itaipava, Burger King... Se todos os que ganham dinheiro ali dentro se propuserem a ajudar a montar um timaço, todo mundo vai ganhar mais. A W. Torre poderia ser parte desta estratégia, mas tem uma dívida impagável.

Se encontrar outro sócio, o Palmeiras pode resolver dois problemas numa operação só. E fazer como o Grêmio: ser o único feliz proprietário de sua própria casa.


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