Folha de S. Paulo


A corrupção e o futebol

Carlos Miguel Aidar está, hoje, para o São Paulo, assim como Jordão Bruno Sacomani está para o Palmeiras, Edmundo dos Santos Silva para o Flamengo e Miguel Martinez para o Corinthians.

São três presidentes de clubes grandes famosos por terem sido depostos.

Pelo menos um deles tem um depoimento a seu favor: "Ele ia devolver o dinheiro", costuma dizer o ex-goleiro Émerson Leão, sobre Jordão Bruno Sacomani.

Presidente do Palmeiras em 1977, Sacomani fez uma retirada de R$ 100 mil, em dinheiro atualizado, para sanar dívidas de suas empresas.

Edmundo dos Santos Silva é um caso mais emblemático, porque acusado numa época em que o futebol movimentava quantias muito maiores. Foi condenado a devolver R$ 18 milhões.

Joseph Blatter e Michel Platini, presidentes da Fifa e da Uefa, respectivamente, foram suspensos nesta semana. Platini jura inocência, mas admite ter recebido comissão por trabalhos para a Fifa.

A mensagem enviada pelo vice-presidente do São Paulo, Ataíde Gil Guerreiro, ao presidente Carlos Miguel Aidar, revelando gravações sobre ofertas de comissões em negociações de jogadores é mais do que um escândalo. Muito mais!

Aidar vai se defender e tentar provar sua inocência. Mas o diálogo gravado mancha toda a sua trajetória.

A revelação desta semana não condena apenas seu mandato. Compromete um clube que já foi símbolo de modernidade no Brasil e até sua própria família –seu pai, Henri Aidar, foi o primeiro presidente campeão brasileiro pelo São Paulo.

Na quinta-feira (8), a reunião do conselho consultivo trabalhou arduamente pela renúncia de Aidar. Todos os presentes, até seu aliado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, defenderam o seu afastamento. No final da reunião, o presidente levantou-se e afirmou ter muitos planos para o futuro no exercício da presidência.

A abertura do processo de impeachment é provável, mas também traumático, porque o estatuto prevê a necessidade de 180 assinaturas, de 240 possíveis, para consumar a queda. Qualquer pessoa honrada proporia o seu próprio afastamento até que se confirme a inocência.

É o mínimo!

Não há na história do São Paulo caso semelhante. Nem o afastamento do conselho do ex-presidente José Eduardo Mesquita Pimenta, por gravações indicando recebimento de propina na venda de Mário Tilico. Quando a denúncia apareceu, Pimenta já não era o presidente, diferente de Aidar neste momento.

Em 18 meses de gestão, Aidar rompeu com o presidente que o indicou à sucessão, Juvenal Juvêncio, alegou uma dívida insustentável, desmentiu-a quando sua gestão foi questionada e admitiu em gravações a hipótese de dividir propina. Só há uma coisa a fazer: renunciar.


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