Folha de S. Paulo


A liga da emergência

O Flamengo confirmou na sexta-feira que continuará jogando o Campeonato Carioca, paralelamente à disputa da Liga Sul-Minas-Rio. "Vamos jogar com um time alternativo", diz o presidente rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello. Ele fala abertamente sobre a ruptura da dupla Fla-Flu com a Federação do Estado do Rio. Só não haverá a desfiliação, porque implicaria dificuldades para jogar outras competições.

O ponto positivo do rompimento é evidenciar a falência da estrutura atual, com quatro meses de futebol semi-amador e disputas estaduais frágeis entre fevereiro e maio.

O ponto negativo é que a criação da liga não representa ainda o calendário de que os clubes necessitam. O desafio é fazer os times grandes jogarem menos partidas durante o ano e os pequenos terem nove meses de atividade. "Esse é o nó", admite o secretário-geral da CBF, Walter Feldman.

Entre o Estadual, a Copa do Brasil e o Brasileirão, o Flamengo iniciou 2015 sabendo que poderia ter de entrar em campo 69 vezes.

Em 2016, terá oito jogos a mais, por causa da liga.

"Talvez o novo torneio não fosse necessário se o Brasileirão começasse mais cedo", pensa Bandeira de Mello. A liga incha o calendário, em vez de equilibrá-lo. Mas contrapõe-se aos campeonatos estaduais, como uma alternativa de lucro e de bom nível técnico.

Nada contra.

Mas tudo a favor de que se pense num novo cenário, que não seja emergencial, contemple os grandes e os pequenos, faça o país inteiro jogar em alto nível o ano todo e leve multidões aos estádios. "Não pode ser por interesse de um ou outro, mas fruto de um pacto do futebol", diz Walter Feldman.

A tese é perfeita. A prática, difícil. Desde 1987, quando a ruptura dos clubes com a CBF produziu a Copa União, levanta-se a bandeira de que romper é a única chance. A CBF promete fazer o grande congresso do futebol brasileiro no próximo ano. Nascerá com 50 anos de atraso. Mas é importante que nasça.

Há avanços. A cúpula da CBF leu a pesquisa feita pelo Estadão e quer expandir a ideia de que o Brasileirão é o campeonato mais equilibrado do mundo. Em segundo lugar, o Russo, com 58% mais desequilíbrio do que aqui. Evidentemente, é importante reforçar esta teoria internamente. Implica o Corinthians não vencer o Joinville neste domingo de manhã ou o Atlético-MG ganhar do Cruzeiro, no clássico no Mineirão à tarde para manter a disputa nos atuais três pontos de distância.

Em médio prazo, é o Campeonato Brasileiro e não as ligas regionais que precisam dar lucro, ter mais competitividade e atrair torcedores –brasileiros e estrangeiros– aos estádios e na TV.

A Liga Sul-Rio-Minas, assim como o Copa do Nordeste, são excelentes como paliativos. Não podem ser vistos como a solução definitiva.


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