Folha de S. Paulo


Moedor de ideias

Oswaldo de Oliveira começa hoje sua segunda passagem pelo Flamengo. Será o oitavo técnico da gestão Eduardo Bandeira de Mello. Dos sete anteriores, cinco tiveram menos de 20 partidas para fazer o trabalho acontecer.

Se fossem mágicos e trabalhassem com varinhas de condão, talvez alguns treinadores conseguissem dizer "abracadabra" e pronto: os times jogariam por música.

Ou por mágica...

Juan Carlos Osorio fará neste domingo (23) sua partida de número 16 no comando do São Paulo. Se sofrer a terceira derrota seguida, já se cogita que possa aceitar o convite do futebol mexicano e tchau...

Não é necessariamente a permanência do técnico o fator fundamental para dar estabilidade a uma equipe. É a continuidade de um trabalho, uma ideia, um estilo de jogo. Poderia ser a manutenção da base do elenco. Mas quem consegue fazer isso no Brasil?

É por isso que se bate na tecla de que os técnicos precisam ter trabalhos avaliados ao final das temporadas. Nesse caso, haveria tempo para medir se o resultado foi abaixo, acima ou dentro do esperado.

Só quatro times da Série A têm o mesmo técnico desde janeiro. Todos cumprem rigorosamente seus objetivos. Corinthians e Atlético-MG brigam pelo título, o Sport pela vaga na Libertadores e a Chapecoense está longe da zona de rebaixamento.

No ano passado, também só quatro times da Série A tiveram o mesmo técnico de janeiro a dezembro. Cruzeiro, São Paulo, Internacional e Corinthians ficaram nas quatro primeiras colocações do Brasileirão.

Não é coincidência.

A pergunta sempre é se o ovo nasceu antes da galinha e é cada dia mais óbvio que, se a galinha está saudável e bem alimentada, o ovo vai nascer depois, grande e bonito.

Só há uma saída para diminuir o tamanho do moedor de ideias que se tornou o futebol brasileiro, trocando técnicos como quem troca de camisa: proibir o time que demitiu de contratar treinador que tenha trabalhado na mesma série no mesmo ano.

O Flamengo poderia demitir Cristóvão, mas não poderia contratar Oswaldo, porque este já dirigiu o Palmeiras na Série A de 2015. É assim que funciona na Itália e no México. Das 17 trocas em 19 rodadas deste Brasileirão, cinco não poderiam acontecer —o Palmeiras não teria contratado Marcelo Oliveira, o Inter não teria Argel Fucks, o Cruzeiro não levaria Vanderlei Luxemburgo, a Ponte Preta não contrataria Doriva.

O outro castigo é a história. De 1971 para cá, houve 45 campeões brasileiros. Onze ganharam a taça com mudança no comando durante a campanha. Desde 2003, com pontos corridos que exigem mais planejamento e num tempo em que a tática importa mais, houve 13 campeões e três mudaram de treinador no meio da maratona.

Em 75% das vezes, quem planeja se dá bem.


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