Folha de S. Paulo


Suicídio coletivo

O Flamengo perdeu do Figueirense, domingo passado, e surgiu a informação de que haveria reunião do conselho gestor no dia seguinte. O técnico Cristóvão Borges e o diretor Rodrigo Caetano pareciam ameaçados. Imediatamente, o presidente Eduardo Bandeira de Mello descartou as saídas. "Ninguém será demitido", cravou.

Na quarta-feira, Cristóvão Borges disputou seu nono jogo como técnico do Flamengo e conquistou sua quarta vitória. O Flamengo não vencia no Beira-Rio havia 14 anos. Livre da ameaça e da avaliação precipitada sobre seu trabalho, Cristóvão atendeu ao telefone na manhã seguinte e ofereceu a este colunista a frase que define o Brasileirão: "Montar o time durante o campeonato é suicídio!"

Trata-se então de suicídio coletivo.

Cristóvão assumiu o Flamengo há 43 dias, estreou Paolo Guerrero no último jogo e Émerson Sheik há quatro rodadas. Como os dois atacantes saíram do Corinthians, é justo dizer que Tite também está remontando sua equipe.

É assim com 18 dos 20 times participantes do campeonato.

Muitas vezes sem prestar atenção nisto, o Brasileirão cria histórias e lendas. Uma delas reapareceu com a observação da tabela antes do início da rodada deste final de semana. O Santos, campeão paulista, e o Vasco, vencedor do Estadual do Rio, estão na zona de rebaixamento. Senha para reforçar um chavão repetido há 12 anos: "Estadual não é parâmetro."

Não é que seja.

Mas se o Estadual é relevante ou insignificante não tem nenhum significado.

Porque a temporada brasileira tem dois pedaços absolutamente separados e só consegue sucesso quem faz o planejamento sobreviver por um ano inteiro.

O melhor exemplo é o Atlético-MG.

Desde a chegada de Levir Culpi, há 15 meses, o Galo foi campeão da Copa do Brasil, venceu o Estadual e lidera o Brasileirão. Ninguém lá reclama por ficar com a taça do Campeonato Mineiro. O Estadual não é parâmetro para o Atlético-MG, nem para o Cruzeiro, eliminado nas semifinais pelo rival e 12º colocado no torneio nacional.

Ganhar o Estadual pode não ter relevância nenhuma, mas certamente não é importante perdê-lo.

Desde a conquista da Copa do Brasil, sete meses atrás, o Atlético-MG perdeu um jogador importante: Diego Tardelli. Repôs com Lucas Pratto.

Afastou Patric, líder de assistências do Brasileirão, porque o lateral assinou pré-contrato com o Osmalispor, da Turquia, e recuperou Guilherme, com o fracasso da transferência para o Cruz Azul.

Dos rivais pela taça, Fluminense, Grêmio, Palmeiras e São Paulo estão em obras. O Corinthians perdeu quatro jogadores e luta para se reestruturar. Como o Atlético-MG, só o Sport iniciou o campeonato pronto, mas sem planejar o título.

Todos podem ficar com a taça, mas é claro quem tem mais chance: quem nunca tentou perdê-la.


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