Folha de S. Paulo


Anatomia de uma crise

A solução do ataque do Palmeiras na goleada sobre o São Paulo foi Leandro Pereira. O quarto gol foi de Cristaldo e, antes da partida, muita gente já dizia que, apesar das 24 contratações, o elenco não é bom. O problema não é a falta de jogadores. É a falta de time. De conjunto.

É parecido com o problema da seleção brasileira. Há quatro anos, o Brasil perdeu a Copa América por razão óbvia. O time era jovem demais. Neymar tinha 19 anos, Ganso tinha 20, Pato, 21. O excesso de juventude de 2011 transformou-se em... um time muito jovem em 2015.

Editoria de Arte/Folhapress

Douglas Costa, Firmino, Neymar e Coutinho têm 23 anos.

Do fiasco de quatro anos atrás, só restaram sete convocados, dois titulares. Foram três técnicos diferentes num período de quatro anos e três presidentes da CBF.

Não pode dar certo.

A seleção é a ponta do iceberg. Dos 12 clubes mais importantes do país, sete têm técnicos há um mês ou menos. São Paulo, Palmeiras, Vasco, Flamengo, Fluminense, Grêmio e Cruzeiro estrearam seu treinador durante o Brasileirão.

Para ter um campeonato bom, times se montam antes do início. Mas cada vez que um gigante perde dois jogos seguidos, alguém diz que o treinador está ameaçado e o dirigente avaliza. Demite.

O abismo tático, a falta de atualização dos treinadores, a diminuição do talento, tudo isso faz parte do cardápio da crise. Se tudo estivesse bem, um Pelé, Garrincha, Romário ou Rivaldo faria uma jogada de gênio e resolveria.

Só que não...

Marco Polo Del Nero garante a permanência de Dunga.

A reforma que o ex-país do futebol precisa poderia, sim, incluir a troca do técnico da seleção. Mas não pode ser só isso. É necessário ter um campeonato forte, onde os jogadores mais importantes queiram jogar, de onde saia uma parte considerável da base da seleção brasileira.

Em 2012, Neymar ganhou mais dinheiro no Santos do que Cristiano Ronaldo no Real Madrid. No ano seguinte, foi embora porque no Brasil havia dinheiro, mas não existia um campeonato competitivo.

Os técnicos brasileiros são desatualizados, não se discute. Mas pense. No ano passado, Ricardo Gareca chegou ao Palmeiras e recebeu quatro jogadores argentinos. Foi demitido depois de 13 jogos. Hoje, Juan Carlos Osório é criticado e tem muitos são-paulinos já julgando ser um enganador, depois dos 4 a 0 para o Palmeiras.

Diferente de Gareca, Osório perdeu três jogadores e pode perder Pato. Tanto Gareca quanto Osório tiveram o mesmo problema: remontar a equipe durante a campanha.

Como Osório poderia ter o compromisso de ser campeão brasileiro se o clube não teve este planejamento e contratou-o para estrear na sexta rodada?

No futebol brasileiro, até Jesus Cristo seria crucificado.

A GOLEADA

O Palmeiras foi melhor por todo o jogo. Rodou a bola, abriu espaços, explorou a bola parada. Isto, por ora, representa tentar se manter na primeira página da tabela. O time sonha com mais: disputar o título pela primeira vez desde 2009. É difícil, mas é possível.

O LÍDER

Não vai durar, não vai ficar... Mas por mais uma semana e o líder do Campeonato Brasileiro, o Sport, é o time que tem o técnico e o trabalho mantidos por mais tempo. Nas últimas cinco edições, aliás, os campeões tiveram o técnico mantido ao longo de todo o torneio.
Sem mudanças, é impossível que salve a seleção.


Endereço da página:

Links no texto: