Folha de S. Paulo


O Corinthians de Dortmund

Tite comparou a alegria de ver seu time atuando nos 15 minutos finais da partida contra o Danúbio com a felicidade relatada por Jürgen Klopp nos melhores dias do Borussia Dortmund. Quando o Borussia quebrava a hegemonia do Bayern, em 2012, ou quando ameaçou ganhar a Champions League em 2013, Klopp era a imagem do êxtase, nas entrevistas ou à beira do campo.

O Signal Iduna Park respondia. Diga-se, ainda responde. São 80 mil pessoas em média por partida, apesar de o clube ocupar modestamente a décima colocação na Alemanha. Se o Borussia está em campo, há 99,5% de ocupação do estádio. Só 400 lugares vazios.

O Corinthians não é igual, longe disso. Mas é importante prestar atenção a alguns detalhes.

As limitações impostas pela Polícia Militar e as mudanças no setor Oeste Superior impedem que se venda mais de 39 mil ingressos. Nos três jogos em Itaquera na Libertadores, a média de público pagante foi de 37.571, o que representa 96,3% da ocupação permitida –com os não pagantes o índice é de 97,5%.

No passado, o Corinthians teve médias de público melhores, mas nunca uma taxa de ocupação tão alta. No Paulistão de 1977, 47 mil pessoas foram em média ao Pacaembu e ao Morumbi ver a campanha do título da redenção –cabiam 150 mil no Morumbi.

A melhor presença de público de um clube numa campanha de Brasileirão é do Flamengo em 1982 –62 mil por jogo. Havia 200 mil lugares no Maracanã.

O clássico Corinthians x Santos levará hoje 30 mil a Itaquera, não pela importância –mínima– do campeonato, mas pela lógica do sócio-torcedor, que ganha pontos se passar seu bilhete pela catraca e perde pontuação se não comparecer.

Funciona como os planos de milhagem das companhias aéreas. É o que faz o Corinthians alcançar a média de 29 mil torcedores por partida neste ano, na soma dos Corinthians x Penapolense do Paulista com Corinthians x São Paulo pela Libertadores.

A história de Corinthians x Santos registra 316 clássicos. Apenas 14 receberam mais de 70 mil espectadores. Houve só sete jogos com 100 mil ou mais, todos entre 1977 e 1984. Mas para muita gente parece que todo jogo estava lotado.

Com 111.103 pagantes, o empate por 1 x 1 da estreia de Sócrates em 1978 foi um deles: "Assisti nos boxes, atrás das cadeiras, no anel das numeradas", lembra meu irmão Marcos que se esticou todo para ver Pita marcar o gol do Santos depois de passe de Juary –Ruy Rei fez para o Corinthians.

Quase não dava para ver. Jogo com 100 mil era ótimo, mas só para lembrar depois. Ver o jogo mesmo não dava.

Há 20 anos, o velho Westfallenstadion, do Borussia Dortmund, tinha sempre metade das arquibancadas vazias. Hoje é o estádio mais cheio do mundo.


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