Folha de S. Paulo


O dedo na ferida

A percepção de quem vive ao redor de Muricy é de que Carlos Miguel Aidar não o quer no comando técnico do clube. Não é verdade. Como nos primeiros quatro anos em que foi presidente do Tricolor, nos anos 1980, Aidar segue a estratégia: delega. O supremo mandatário do departamento de futebol é Ataíde Gil Guerreiro e seu desejo é ter Muricy até dezembro.

Se Aidar preferiria ter Josep Guardiola ou Carlo Ancelotti, não importa. Ataíde é quem decide. "Tenho muitas coisas para pensar. O futebol é responsabilidade do Ataíde e avalizo todas as suas decisões", diz o presidente.

Também garante que deseja Muricy até o fim do contrato.

Mas a ideia geral de que Muricy não é seu preferido atrapalha.

A expressão opaca e sem alegria de Muricy, diferente de seus melhores dias, vem da certeza de não ser benquisto.

Há quem diga que Aidar poderia dar mais sinais claros de seu contentamento com Muricy. No mês passado, deixou seu gabinete no Morumbi e foi até o centro de treinamento da Barra Funda para manifestar o apoio. Não é verdade que nunca fez nada.

Embora seja inegável que nos anos 1980 Aidar evitava crises públicas com mais facilidade do que tem conseguido. Briga com Juvenal Juvêncio, desconfiança da comissão técnica, mal-estar dos jogadores ao saberem que a torcida uniformizada iria visitar o CT com permissão do presidente... O São Paulo virou um clube explícito.

Também é indiscutível que Muricy não conseguiu montar o time. Às vezes parece faltar pôr o dedo na ferida, tirar quem está mal, escalar quem vai bem. Alan Kardec fez seu primeiro bom jogo do ano contra o Marília e começou o clássico contra o Palmeiras. Só foi escalado por causa da lesão de Luis Fabiano.

Editoria de Arte/Folhapress

A percepção do elenco precisa ser de que quem joga bem fica, quem não acrescenta sai. Pato fez careta ao deixar o estádio do Palmeiras provavelmente pensando que se fosse Luis Fabiano em seu lugar não seria o eleito para a substituição. Ganso desarma mais que Denílson e cria menos do que Thiago Mendes –titular só no Paulistão. Denílson e Ganso são titulares "imexíveis".

Há mudanças a fazer e Muricy é capaz de fazê-las. Na sétima rodada do Brasileirão de 2007, o São Paulo de Muricy tinha seis pontos a menos do que o Botafogo e foi sofrível contra o Flamengo num 0 a 0 medonho. Nove jogos mais tarde, já era líder e jogava bem.

Em 2008, o São Paulo de Muricy virou o primeiro turno em quinto lugar, onze pontos atrás do Grêmio. Fez um segundo turno impecável para ser tricampeão brasileiro.

Se jogar o que tem jogado, o São Paulo perde para o San Lorenzo e será eliminado da Libertadores.

Se esquecer os fantasmas e se lembrar do que já fez, Muricy pode fazer o São Paulo virar um time forte, candidato até ao título da Libertadores.

BRASIL SEM BRILHO

O Brasil chamou demais o Chile para tentar contra-ataque e deu demais o controle do jogo à seleção de Jorge Sampaoli. Não foi igual ao desempenho contra a França, mas vale lembrar que havia seis reservas escalados. Mesmo assim, o time foi nervoso e ruim tecnicamente. Neymar prendeu demais a bola. A seleção melhorou com Willian e Firmino. É o melhor início de um técnico na seleção em 46 anos. O time está bem montado para a Copa América. O trabalho de Dunga é bom. Mas é só um pedaço do caminho até a Rússia. O Brasil cansou de ganhar Copa América e perder Copa do Mundo.


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