Folha de S. Paulo


Muricy mudou

Só existe uma coisa mais frequente do que ver o São Paulo vencer os jogos contra os pequenos do Paulistão e perder ou não fazer gols contra os adversários mais fortes. É a monótona troca de passes do meio-de-campo para a frente, sem se infiltrar na defesa rival.

O São Paulo tem o maior índice de posse de bola da Libertadores e usou esse mesmo estilo com seu time reserva para ganhar da Ponte Preta em Campinas.

No clássico contra o Corinthians, semana passada, o time trocou 139 passes para uma finalização. A média no Campeonato Paulista é de 94 passes para chutar uma bola em gol.

Muricy era diferente.

Na campanha do tricampeonato brasileiro de 2008, o São Paulo trabalhava menos a bola, cruzava e finalizava mais. A estatística daquele ano indica 47 passes certos para cada chute a gol.

Há um momento da carreira do técnico do São Paulo suspeito de ter provocado toda essa mudança: a derrota por 4 a 0 para o Barcelona. Ao deixar o estádio de Yokohama sem o título mundial, Muricy exaltou o estilo tiki-taka e passou a discursar pela necessidade de aplicar parte daquilo no Brasil.

É óbvio que o Barcelona tinha um jeito de jogar e aniquilava adversários pela capacidade de se impor à sua maneira. Nem todos os times são assim.

Campeão Brasileiro em 2010, o Fluminense de Muricy trocou 41 passes para cada chute e marcou dez vezes de cabeça. Emerson fez o gol do título depois de bola cruzada por Carlinhos. Este ano, o treinador quis Carlinhos, mas não os cruzamentos.

Editoria de arte/Folhapress
Os reservas: meias abertos e troca de passes estéril
Os reservas: meias abertos e troca de passes estéril

O Flu cruzava cinco bolas por partida. O São Paulo de hoje só cruza 3,4.

Não está em questão o jeito de jogar, mas a falta de objetividade.

O Barcelona toca, toca, toca, infiltra e marca. O São Paulo toca, toca, toca... e toca, toca, toca...

O retrospecto sem nenhum gol nos três clássicos contra Santos e Corinthians, duas vezes, preocupa dois dias antes encontro contra o San Lorenzo.

Ontem, com o time reserva, a monotonia prosseguiu. No primeiro tempo, o time deu 232 passes e chutou no alvo uma vez só. Na segunda metade, 166 passes e três chutes certos. Mais parecido com o velho Muricy.

A torcida não quer nem o Barcelona de Guardiola que troque passes sem cessar nem o tricolor tricampeão brasileiro com seus cruzamentos insistentes –16 gols de cabeça! Quer apenas um time que transmita confiança de poder vencer as partidas fundamentais.

O primeiro passo é aproximar os meias, um em cada ponta no sistema de Muricy com duas linhas de quatro. Outro é recuperar Luis Fabiano, que tem dois gols apenas neste ano. Ninguém confia em Pato –e nem deve– mas é o artilheiro do time em 2015, com oito gols.

O São Paulo precisa vencer e convencer contra o San Lorenzo.

CONSISTENTE

Tanto com Marcelo Fernandes quanto com Enderson Moreira, o Santos mantém o estilo. Lembra o time de 2014 dirigido por Oswaldo de Oliveira, melhor equipe da primeira fase. Tem talento, velocidade e reposição. Gabriel vai bem como centroavante. E Ricardo Oliveira surpreende pelo ótimo nível.

MENOS

Dudu conheceu as críticas da torcida do Palmeiras e não gostou. Azar! É preciso dar tempo para o time se montar, mas questionar as reclamações da torcida alviverde não é o melhor jeito de fazer isso. A calma só virá com vitórias e bom futebol, especialmente nos jogos grandes.


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