Folha de S. Paulo


O ódio bom

Corinthians e São Paulo podem disputar onze clássicos em 2015. Isso depende de o Corinthians passar pelo Once Caldas e haver novos encontros nos mata-matas da Libertadores, da Copa do Brasil, na final do Paulistão e nos dois turnos do Brasileirão. É provável que essa seja a rivalidade do ano, assim como a de 2014 envolveu Cruzeiro e Atlético, finalistas da Copa do Brasil e que disputaram sete clássicos –o Cruzeiro não venceu nenhum.

Mas a última semana reacendeu outra antiga rixa do futebol brasileiro, entre São Paulo e Palmeiras. Primeiro, o diretor-executivo Alexandre Mattos pulou à frente da negociação por Dudu quando o destino do atacante parecia ser o Morumbi.

Depois, o São Paulo contratou Jonathan Cafu, da Ponte Preta, também pretendido pelo Palmeiras.

"É uma questão de mercado. Não tenho nada contra o Palmeiras", diz o vice-presidente Ataíde Gil Guerreiro sobre Dudu.

A verdade é que o São Paulo não se incomodou com o chapéu do Palmeiras tanto quanto se irritou com os empresários de Dudu.

O São Paulo tem se preocupado mais com o Corinthians.

Há anos, palmeirenses irritam-se quando a Polícia Militar afirma ter mais trabalho nos clássicos Corinthians x São Paulo do que Corinthians x Palmeiras. Nem sempre é assim. A rivalidade é cíclica. Oberdan Cattani repetiu por 70 anos uma frase de seus tempos de jogador: "O Corinthians é adversário, o São Paulo é inimigo!"

Essa percepção ficou reforçada na primeira metade dos anos 90, quando o Palmeiras acabou com o reinado do São Paulo de Telê Santana. E perdeu força na segunda metade daquela década, quando o Tricolor perdeu força enquanto Palmeiras e Corinthians enfrentavam-se disputando a Libertadores –houve quinze clássicos entre 1999 e 2000.

As rivalidades renascem ou adormecem dependendo de quanto um time provoca raiva na torcida do outro. Entre 1976 e 1992, o Santos enfrentou o Corinthians 56 vezes e só venceu cinco. Ganhar do time do Parque São Jorge era a glória para qualquer santista –o corintiano não ligava para essas derrotas.

Depois de Robinho e Neymar, o incômodo do Corinthians com o Santos aumentou demais.

O Botafogo odeia o Flamengo e a recíproca não é verdadeira –exceto entre os rubro-negros com mais de 50 anos, que apanharam dos times de Garrincha e depois Jairzinho.

Se jogarem mesmo onze vezes em 2015, será difícil não se falar da rivalidade de Corinthians e São Paulo. Mas neste início de ano, o Palmeiras deu uma tacada importante para voltar a ser o alvo da fúria de corintianos, são-paulinos e santistas. Não se trata do chapéu para contratar Dudu, mas do esboço da montagem de um time competitivo. Ser campeão é o melhor jeito de ser respeitado –e até odiado– pelos rivais.


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