Folha de S. Paulo


A melhor pesquisa

Uma enquete feita pelo Departamento Estadual de Imagem e Propaganda, em 1940, escolheu o São Paulo como o clube mais querido da cidade. Foram 5523 votos, quase o dobro do Corinthians e do Palestra. Ninguém cogitou dizer que a torcida do São Paulo era a maior, mas a enquete teve valor e o apelido "O Mais Querido" é lembrado até hoje.

Nesta semana, o Palmeiras superou o Corinthians em número de sócios-torcedores – 64.857 x 64.701. O clube alviverde só perde para Inter, Grêmio e Cruzeiro.

Ninguém imagina que esse ranking espelhe as maiores torcidas do Brasil. Flamengo e Corinthians têm mais fiéis, é óbvio.

A quantidade de sócios-torcedores representa outra coisa: a chance de lotar o estádio.

Há dez anos o Inter surpreendeu o país quando conseguiu fazer seu plano de sócios igualar o valor em dinheiro que os grandes do eixo Rio-São Paulo arrecadavam com patrocínio de camisa –R$ 30 milhões anuais. Com 127 mil associados, hoje, o Inter é o campeão de sócios e faz mais dinheiro do que isso.

Pode ser melhor ainda.

Há dois tipos de sócios-torcedores. Um é o que vive à distância, o corintiano que mora no Mato Grosso ou no Paraná, quer ajudar seu time e espera um incentivo. Pode ser desconto para comprar camisas ou outros presentes. O outro tipo é o torcedor que mora na cidade de seu clube. Esse tem de ir ao estádio.

Muita gente gritou contra os preços acima de R$ 120 para os dois jogos inaugurais do Allianz Parque, como se fosse caro demais ir à festa. Falácia! Sócios-torcedores com mais de 80% de presença nas partidas do Palmeiras em 2014 pagaram zero real pela entrada.

Zero!

Em 2010, corintianos se espremeram para comprar bilhetes para a final da Libertadores por até R$ 1.000. Os sócios-torcedores com 55 ingressos comprados pagaram R$ 18!

Como poucas vezes isso fica explícito nos comentários e matérias de jornais, pouca gente entende que pode pagar barato para ir ao estádio, mas só se fizer isso com frequência. O corintiano vai pagar pouco para assistir à final da Libertadores, se seu time se classificar para a decisão. Só que, para isso, terá de assistir a Corinthians x Marília em Itaquera, na estreia do Paulistão.

Nem todos os clubes têm planos com milhagem –Corinthians e Palmeiras têm. Mas só isso pode mudar a lógica histórica do público no Brasil –jogo grande com estádio lotado, jogo pequeno, vazio.

Há dois anos, muita gente se esgoelou para discutir pesquisas do Datafolha que apontavam a aproximação do número de torcedores do Corinthians em comparação com os do Flamengo. Essas enquetes deveriam valer muito menos do que a média de público no estádio.

Quem conseguir 100% de ocupação em seus jogos e média de 50 mil espectadores por jogo não precisará se preocupar em saber qual é sua posição no ranking do número de torcedores. O estádio mais cheio é a pesquisa que vale.


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