Folha de S. Paulo


Drible na Fifa

Antes de a Fifa pensar em proibir a relação de agentes e fundos de investimento com contratos de jogadores, o Ministério do Esporte do Brasil cogitou e desistiu desse veto.

Primeiro pela percepção de que a maior parte dos clubes tem jogadores fatiados com investidores e que, sem esse dinheiro, será mais difícil manter bons jogadores por aqui. Também não será fácil aplicar sanções.

A ideia atual é estabelecer um limite de 49% para os investidores: o clube precisará ter 51%. Também não é simples.

Sempre há equívocos quando se fala da participação de agentes e fundos de investimento na compra de jogadores. O maior erro é julgar que se trata de um problema exclusivo do Brasil.

Na terça-feira passada, o jornal italiano "La Gazzetta dello Sport" fez uma reportagem sobre o tema com o título: "Que se vá ao fundo!".

O diário sugeria que essa é uma solução para as ligas menos endinheiradas, como a italiana hoje em dia. Afirmava também que o problema existe apenas quando os investidores se intrometem na gestão das equipes.

O último exemplo é a guerra entre o Sporting de Portugal e a empresa Doyen pela venda do lateral argentino Rojo ao Manchester United. O presidente do Sporting, Bruno Carvalho, acusa de chantagem o agente Nélio Lucas, da Doyen. "Ele me escrevia frases como 'Se não o deixar ir, vamos criar problemas para você'".

Carvalho também acusou a Doyen de ter oferecido o argelino Brahimi ao Sporting por 20 milhões de euros e negociado com o Porto por apenas 6,5 milhões.

A Doyen é a mesma que colocou Leandro Damião no Santos.

Os gigantes da Europa não precisam desse dinheiro. Apesar disso, o Real Madrid é um dos maiores clientes do agente português Jorge Mendes, sócio da Gestifute e conselheiro do fundo QSI, de ótima relação como Chelsea.

Na Europa, quem precisa e faz parcerias são os clubes de ligas periféricas –Porto e Benfica– e os times médios de campeonatos grandes –Sevilla e Atlético de Madrid.

A necessidade de disciplinar essa relação é evidente, mas é muito difícil fazer.

O que se convencionou chamar de "direitos econômicos" é a divisão de porcentagem da venda futura. Isso já é vedado aos agentes pelo código de transferências da Fifa. Os "direitos esportivos" são a inscrição na federação. Esses sempre são 100% dos clubes.

O fundo pode fazer contratos por direitos econômicos definindo quanto dinheiro emprestou e como deve ser ressarcido. É um drible simples.

O Cruzeiro tem 50% do contrato de Ricardo Goulart, o Sonda ajudou o Inter a comprar D'Alessandro e o São Paulo a contratar Ganso. Os três líderes do Brasileirão fazem esse tipo de operação. Apesar disso, o Cruzeiro rejeitou oferta do Monaco para vender Ricardo Goulart. O xis da questão é usar o dinheiro do investidor e não perder a soberania para decidir seu próprio destino.


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