Folha de S. Paulo


Gol de Quem?

Muricy Ramalho considera sua atual passagem pelo São Paulo o trabalho mais difícil de toda a sua carreira. Não fala sobre estar em segundo lugar no Brasileirão, mas sobre sua chegada, um ano atrás. Funcionários do clube confirmam que em setembro de 2013, com o time na zona de rebaixamento e o então presidente Juvenal Juvêncio ausente do centro de treinamento –estava doente–, havia jogadores comandando em vez de serem comandados.

Sexta-feira, Muricy completou um ano de sua estreia, vitória por 1 a 0 sobre a Ponte Preta. Dos 20 técnicos participantes do campeonato, agora dois –apenas dois– têm o mesmo trabalho há um ano ou mais. Só São Paulo e Cruzeiro.

Marcelo Oliveira teve aumento salarial de 50% em janeiro, depois de ser campeão brasileiro, e passou a ser um dos mais bem remunerados treinadores do país. O sucesso atual contrasta com a pressão de sua chegada. A ligação visceral com o Atlético provocou desconfiança de muitos torcedores de sangue azul.

Há um mês, a direção do São Paulo também desconfiava de Muricy. Ninguém falou isso a ele pelas costas. Disse de frente. "Hoje a equipe está muito bem", elogia o vice-presidente de futebol, Ataíde Gil Guerreiro.

Se só um mês atrás a pressão era alta, não é justo atribuir o sucesso apenas ao fato de ter completado um ano. O São Paulo joga bem e bonito porque os quatro homens da frente entrosaram-se rápido.

Ganso, Kaká, Kardec e Pato jogaram juntos seis vezes e venceram todas. Com os quatro, o time marcou 14 gols, sete de Pato, o artilheiro. Nenhum de Kaká.

Mesmo sem a jogada decisiva, Kaká é apontado como o maior fator da evolução. É justo. Muricy não menospreza sua importância, mas volta a falar na importância do tempo. "Só depois da Copa fechamos o elenco", argumenta.

"Falta um tanto ainda, eu sei..."

O verso da canção "Sobre o Tempo" da banda mineira Pato Fu adapta-se mais aos são-paulinos do que aos cruzeirenses. E como a canção faz parte de um CD chamado "Gol de Quem?", nada mais adequado para um domingo de clássico entre líder e vice-líder do Brasileirão. Gol de quem teve trabalho, paciência –e um pouco de sorte também.

O Cruzeiro teve mais e tem mais chance de ganhar o campeonato. "É mais difícil virar hoje do que foi em 2008", admite Muricy. No ano do tri, o São Paulo chegou à segunda rodada do returno onze pontos atrás do Grêmio. O técnico do São Paulo sabe que o Cruzeiro de hoje é mais montado do que aquele Grêmio de Celso Roth. A tendência é errar menos.

Para se recuperar e ser tri em 2008, o São Paulo fez 42 pontos no segundo turno. O Cruzeiro terminou a primeira metade deste Brasileirão com 43 pontos. Significa que a única chance de tirar a taça do Cruzeiro é ser absolutamente perfeito nos próximos 18 jogos. A começar pelo jogo de hoje.


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