Folha de S. Paulo


O tabu

Dos 23 convocados pela Argentina, 20 jogam no exterior e só três em clubes do país. Os reservas Orión e Maxi Rodríguez atuam pelo Newell's, o volante Gago, pelo Boca Juniors. Em toda a história das Copas, só uma vez uma seleção campeã tinha a maioria dos jogadores em clubes do exterior —a França de Zidane, da Juventus, de Turim.

Em 2010, a Espanha foi campeã com 20 dos 23 convocados em clubes espanhóis. Em 2006, a Itália venceu com 100% do elenco na Série A. Em 2002, o Brasil tinha 13 de clubes nacionais, dez jogando no exterior.

Parece coincidência, mas pode ser um símbolo. Quanto mais forte um campeonato nacional, maior a chance de os jogadores ficarem por mais tempo no país, de a seleção manter identidade no estilo de jogar. Isso unido à formação de seleções desde o sub-17 leva a bons resultados em médio prazo.

Ontem, a presidenta Dilma disse que o futebol precisa crescer internamente para lotar estádios e manter jogadores no país. O discurso é bom, mas a CBF tem de fazer o papel de toda federação esportiva: difundir.

O verbo não indica entregar uma bola em cada clube, mas espalhar conhecimento.

Josep Guardiola deu duas palestras em Buenos Aires nos últimos dois anos. Não veio nenhuma vez ao Brasil. Esse intercâmbio é fundamental. A CBF tem essa obrigação. Trazer gente importante para cá, levar técnicos daqui para estágios no exterior. E também tentar trazer um pouco do ambiente do mês da Copa para o dia a dia. De convidar o mundo e o país para manter a festa.

O 7 a 1 fez com que isso pareça impossível.

Há dez anos, o Campeonato Alemão tinha 33 mil pessoas de média de público. Hoje, são 45 mil por jogo, festa em todos os estádios e trabalho estruturado para a seleção ser forte. Só três dos 23 convocados jogam no exterior. Se o tabu for mantido, a Alemanha estará a um jogo de ser campeã.


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