Folha de S. Paulo


Por que o Uber aumenta a eficiência econômica?

Mark Ralston/AFP
(FILES): This file photo taken on March 10, 2016 shows a man checking a vehicle at the first of Uber's 'Work On Demand' recruitment events where they hope to sign 12,000 new driver-partners, in South Los Angeles Uber and Lyft are eviscerating the taxi industry in Los Angeles three years after they began operating in the city, officials say. Thanks to the ridesharing services, which enable independent drivers to offer rides via a smartphone application,
Motorista da Uber em Los Angeles, Califórnia (EUA)

A chegada da Uber, do Cabify e de outros aplicativos de transporte vem revolucionando a forma como as pessoas se locomovem em centros urbanos.

Em particular, eles introduziram competição em um mercado tradicionalmente bastante regulado e dominado por táxis, que contam com concessões de governos locais. Uber e afins permitem que motoristas consigam entrar nesse mercado, mesmo sem contar com a licença de uma prefeitura, por exemplo.

Isso representa um ganho para o consumidor, já que a concorrência proporciona preços mais baixos e maior disponibilidade de motoristas para o serviço. Mas há outras repercussões importantes, pois a nova tecnologia permite um uso mais eficiente dos recursos da sociedade.

Explico.

Quem tem um veículo pessoal sabe: ele fica a maior parte do tempo parado, ocioso. Grande parte dos indivíduos usa o carro para se locomover entre casa e trabalho (ou escola), o que corresponde a uma fração pequena de cada dia. No restante do tempo o carro permanece estacionado.

Há uma série de custos fixos (ou seja, que independem do número de quilômetros rodados) associados a um veículo —seguro, IPVA, juros do financiamento etc. Quanto mais o carro roda, mais os custos fixos podem ser "amortecidos". Mas se ele fica parado a maior parte do tempo, esses custos serão substanciais por quilômetro.

Apesar de tudo isso, como o táxi é caro e nem sempre disponível, muita gente opta por ter o próprio veículo. A entrada de concorrentes do táxi muda totalmente esse panorama.

Deixe-me dar um exemplo ilustrativo. Maria é uma executiva que todo dia entra no trabalho às 9h e sai às 19h, e usa seu próprio carro para se locomover. João trabalha em casa, mas diariamente vai à academia (também em seu carro) à tarde. Sai às 14h e retorna às 17h. Note que os veículos de ambos ficam a maior parte do tempo parados. Ainda assim, eles preferem usar seus automóveis, pois acham o táxi caro e nem sempre encontram taxistas quando necessitam.

Não seria ótimo se João e Maria dividissem o mesmo carro? Claro que isso é muito complicado. Eles não se conhecem e não vivem exatamente na mesma vizinhança. Maria teria de entregar o carro para João, que depois o devolveria.

Porém, se houver uma alternativa mais barata e disponível de locomoção, eles podem de fato dividir o mesmo carro —o de um motorista de Uber, por exemplo.

A implicação disso é que a necessidade de ter carro diminui. Famílias passam a ter menos veículos próprios. Algumas pessoas simplesmente desistem de ter carro. E indivíduos que dirigem para Uber e afins rodam mais, permitindo um maior "amortecimento" dos custos fixos associados ao veículo.

Há outro efeito importante. Carros parados precisam ser "guardados". Ou seja, a ineficiência associada à ociosidade requer o uso de outro recurso escasso: espaço físico - garagens, por exemplo.

Com os indivíduos utilizando menos veículos próprios, há menor demanda por esse espaço. No curto prazo, o preço do estacionamento diminui; no longo prazo, o espaço pode ser liberado para usos alternativos.

Já temos indícios de que isso está ocorrendo na cidade de São Paulo. A demanda por estacionamentos está em queda livre, assim como os preços cobrados pelo uso de espaço.

Há ainda um ganho adicional: com o custo mais baixo e a maior disponibilidade de motoristas, as pessoas estão deixando de usar seus carros quando vão para a balada. Dependendo do caso, a corrida sai mais barata que o preço do estacionamento. Isso significa menos pessoas dirigindo bêbadas na volta para casa, o que reduz o número de acidentes. Já há evidências desse efeito para a cidade de Nova York.

A mudança traz impactos negativos para setores e indivíduos específicos. Taxistas perdem com a concorrência, e há ainda a diminuição de oportunidades de emprego para manobristas. Mas esse efeito é certamente pequeno, pois não estamos falando de uma fração significativa dos postos de trabalho da economia.

Por outro lado, Uber e outros aplicativos oferecem oportunidades de emprego para diversas pessoas. Desempregados, por exemplo, podem ingressar temporariamente nessa ocupação e diminuir os custos associados à falta de trabalho.

Na verdade, um movimento semelhante pode ser visto no mercado de imóveis. Casas e apartamentos também ficam ociosos em determinadas situações. Aplicativos como o Airbnb permitem, por exemplo, que uma família que vá viajar alugue seu imóvel por um período curto. Ou que um quarto vazio em um apartamento possa ser alugado a outra pessoa. Tudo isso reduz a ociosidade e garante o uso mais eficaz dos recursos.

Será que, no futuro próximo, veremos algo semelhante para coisas como ferramentas e eletrodomésticos?

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