Folha de S. Paulo


É a conscientização da sociedade que fará o futuro começar a ser construído

Eduardo Anizelli - .23.mai.17/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 23-05-2017, 06h00: Movimento Rio de Paz faz protesto com mascaras pintadas de vermelho no gramado do Congresso Nacional. Ato tem como objetivo expressar o repudio aos escandalos de corrupcao no meio politico brasileiro, cobrar a reforma politica e pedir a renuncia do presidente da republica, Michel Temer. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, PODER)
Máscaras pintadas de vermelho no gramado do Congresso em protesto contra a corrupção

Enquanto as desgastadas lideranças políticas do país batem cabeça e não resolvem os problemas urgentes, uma larga e crescente parcela da sociedade decidiu arregaçar as mangas e não esperar mais.

Esse sentimento, ainda nascente, se manifesta sob múltiplas facetas e envolve os mais variados públicos, tendo como denominador comum o cansaço de décadas de descaso em relação a tudo isso que está aí.

Mais significativo é que cidadãos comuns vêm revelando conhecimento das causas de suas aflições sem encontrar ressonância na incompetência e no desleixo das autoridades.

Em diversas ocasiões, a parcela da sociedade que mais precisa dos serviços públicos mostra ter adquirido um grau de conscientização e indignação inédito na história recente. É como se a população "impichasse" os governantes e os políticos, não se vendo por eles representados.

Isso se torna evidente especialmente nas entrevistas, quando a clientela dos serviços públicos de maneira articulada aponta soluções práticas para mazelas habituais, como a baixa qualidade na educação, a dificuldade de acesso ao sistema de saúde e a falta de segurança.

A sensação de abandono ganha um caráter mais racional do que emocional, o que permite visão clara do fosso aberto entre as demandas sociais e a atuação do Estado.

A percepção da desigualdade de rendimentos entre servidores públicos e trabalhadores em geral, por exemplo, já é generalizada, sobretudo em relação às benesses usufruídas pelo alto funcionalismo dos três Poderes.

Além disso, consolida-se a constatação de que boa parte dos impostos é aplicada em benefício de minorias privilegiadas, não gerando, em contrapartida, serviços públicos eficientes e com a qualidade desejada.

Da mesma forma, cresce a exigência de que a economia e o setor público funcionem em harmonia, com alta produtividade e custos alinhados aos melhores padrões internacionais.

Vão se fechando, assim, as brechas para "jeitinho brasileiro" contemplar setores econômicos e a alta administração pública —uma proteção que cobra um excessivo preço ao país e pune, em particular, as camadas de menor poder aquisitivo.

É um fenômeno de massas difícil de deter —a força da transformação. Ela vem arrebatando a sociedade a fazer o Brasil renascer, mesmo à revelia de lideranças míopes e egoístas. Desse sentimento pode surgir uma geração de políticos e gestores públicos imbuídos do genuíno espírito democrático e republicano.

Tal movimento se contrapõe aos falsos progressistas e aos salvacionistas de ocasião e pode constituir-se na mais aguardada novidade das eleições no ano que vem.

Esse Brasil com pressa e consciente de seus direitos anseia por uma classe empresarial dinâmica, altiva e independente de proteção e subsídios. Dos empresários espera-se que não se omitam dos grandes debates e contribuam com a formulação de propostas para o destino do país, livrando-se da visão de que os favores arranjados em Brasília sejam componentes normais (e não atípicos) de seus planos de negócios.

São claros os sinais de que a sociedade quer um país livre dos entulhos que interditam o desenvolvimento e aguarda medidas corajosas que desatem o nó fiscal em que nos enroscamos. Entende também que só com um intenso programa de reformas poderemos almejar um futuro virtuoso.

Essa nova consciência reforça a oportunidade de eleger em 2018 nomes comprometidos com nossas mais legítimas esperanças e capazes de garantir que o Brasil do futuro que nunca chega começará a ser construído já no dia seguinte ao da contagem dos votos.


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