Folha de S. Paulo


E o tempo passa...

A fila do progresso anda em toda parte, ainda que mais lenta para alguns que para outros no mundo, mas parece que empacou no Brasil.

O noticiário econômico e a crônica política ilustram a pasmaceira.

Um exemplo singelo dessa situação foi o destaque atribuído aos 15 anos completados nesta semana da importante Lei de Responsabilidade Fiscal, embora truncada, já que os gastos da União foram excluídos de seu alcance. Uma década e meia depois, em consequência, estamos diante de mais um ajuste fiscal.

A alternância entre períodos de laxismo e contração dos orçamentos dos governos é recorrente no mundo. A distinção entre tais eventos é o legado do que se faz com o dinheiro em cada um desses períodos.

No Brasil, regride-se a cada salto, quase como uma expiação pelos intervalos cada vez menores de desenvolvimento –ou não estaríamos enredados com as prioridades de sempre, como educação de qualidade, o deficit de infraestrutura e a falta de estratégias para inserir o país nas correntes do comércio mundial.

Nestes mesmos 15 anos de responsabilidade fiscal inacabada, Coreia do Sul e Taiwan, países desprovidos de recursos naturais, completaram a passagem do subdesenvolvimento crônico e de uma posição relativa inferior à do Brasil em renda per capita e bem-estar para o patamar de economias desenvolvidas. E o fizeram investindo no que no Brasil só é lindo na propaganda de partidos: educação, logística, inovação tecnológica, além de regulação promotora do empreendedorismo.

Conhecidos como "tigres asiáticos", ambos iniciaram a ascensão há 30 anos, reforçada na última década, quando estavam lançadas as bases para compensar a falta de riquezas naturais com uma indústria high-tech criada a partir da inteligência coletiva gerada pela educação focada em fomentar desde a infância as habilidades em ciências, em matemática e em pesquisa.

Tais atributos, somados a uma estratégia exportadora e ao apoio a uma vasta rede de pequenas e médias empresas ao redor de grandes grupos industriais, explicam a transformação dessas sociedades em potências, com renda per capita acima de US$ 20 mil, e crescendo.

No Brasil, essa medida regride desde o pico alcançado em 2011, de US$ 13,2 mil. Neste ano, preveem-se US$ 9.700. E o avanço econômico concentrou-se em poucos grupos, limitando a diversidade produtiva e a repartição do progresso que distingue a produção na Ásia.

Esse é um modelo a considerar nestes tempos de ajuste econômico e desorientação sobre o que virá depois. Não há tempo a perder, já que o progresso na Ásia e nos Estados Unidos, os centros dinâmicos do crescimento global, diminuiu com a crise pós-2008, mas não parou de avançar.

Em dez anos, os conectados à web triplicaram, chegando a 3 bilhões de pessoas (41% da população mundial); inovações estranhas à época, como drones e carros sem condutor, começam a despontar; o custo da energia solar caiu 79% desde 2009, competindo com o petróleo. É um processo que vem de longe e do qual nos afastamos, entretidos com pré-sal, "nova matriz econômica" e outras quimeras, levando-nos a discutir ajuste fiscal, enquanto o futuro se faz no presente mundo afora. Triste.


Endereço da página: