Folha de S. Paulo


Investimento, o grande desafio

Investir, na atividade empresarial, significa acreditar no futuro e na disposição de correr riscos. Implica sacrifícios, já que corresponde a abrir mão de parte do consumo corrente. Mas as oportunidades são proporcionais aos riscos: o investimento de hoje viabiliza a ampliação da oferta de bens e serviços de amanhã, conjugada ao aumento de qualidade, além da redução de custos de produção e de preços ao consumidor.

Por tudo isso, o investimento não tem contraindicações, apesar de ser algo que o Brasil não tem feito a contento. Investimos pouco e mal em áreas como infraestrutura de transportes, energia e saneamento, na modernização e na expansão da capacidade produtiva industrial e em capital humano e inovação.

Talvez já esteja esgotado o modelo de crescimento desacompanhado de investimentos que potencializem os acréscimos de produtividade. Torna-se por isso prioritário discutir tais movimentos e suas lacunas. No ano passado, a economia cresceu 2,3%, configurando uma trajetória de baixa expansão que já perdura por um triênio.

O PIB aumentou nos últimos três anos, em média, só 2%, taxa insuficiente para incentivar novos gastos de capital.

Em 2013, o volume de investimentos cresceu 6,3%. Mas, longe de indicar recuperação sustentada, essa elevação apenas repôs, com pequena folga, a retração do investimento em 2012
(-4%). Na média de 2011 a 2013, o avanço de 2,2% do investimento foi pouco maior que a evolução do PIB no período e inferior ao aumento do consumo.

Esse padrão de crescimento precisa ser alterado para refletir a necessária mudança do eixo dinâmico da economia do consumo para o investimento.

No Brasil, o investimento total (público e privado) equivale a 18,4% do PIB e assim se mantém há vários anos. É pouco para assegurar o crescimento sustentado com avanços sociais e de produtividade.

Para atender tais prioridades, a taxa de investimento deveria ser de 25% do PIB, conforme as referências internacionais. Emergentes com alto desempenho e que vêm reduzindo o fosso entre a renda de sua população e a de países avançados investem 30% ou mais do PIB. Na China, o índice chegou a quase 50% nos últimos anos.

Em parte, o investimento no Brasil é menor que entre os emergentes devido aos valores relativamente baixos investidos na construção comparados às aplicações em máquinas e equipamentos.

Em 2013, por exemplo, o investimento em construção cresceu 2,3%, mas passou de 10% em bens de capital. Como a modernização e a incorporação de progresso técnico no setor manufatureiro têm relação estreita com investimentos em máquinas e equipamentos, é possível que esteja em curso uma melhora dos padrões de produção e produtividade da economia.

Isso vai favorecer a competitividade da indústria e da economia em geral. Para que haja avanços ainda maiores de produtividade, no entanto, é preciso conferir esforço redobrado ao investimento na construção.

O pano de fundo desse processo envolve a retomada da confiança nas grandes metas da política econômica, sobretudo nas áreas fiscal e a monetária. Também decisivo será o aprimoramento da regulação, além do reforço da interação público-privada no programa de concessões em infraestrutura.

É preciso sublinhar uma característica preocupante: o distanciamento das indústrias dos mercados externos. Segundo pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria), apenas "3,6% das empresas com intenção de investir em 2014 têm como foco principalmente ou totalmente o mercado externo".

Já as empresas com intenção de investir unicamente para o mercado doméstico correspondem a 44% do total, enquanto, em 2010, somente 28,5% das indústrias tinham no consumo interno o foco de suas operações.

Não há vantagens em uma especialização tão acentuada como essa. A perda da capacitação exportadora decorrente do baixo investimento voltado ao mercado externo desestimula as empresas a buscar padrões internacionais de custo e eficiência.

E, quanto menos sintonizadas estiverem com o processo de inovação no mundo, maior será a relação de dependência tecnológica e menor a relevância de sua inserção nas cadeias produtivas globais.

Tal viés põe em risco o desenvolvimento industrial em médio prazo. É mais seguro, além de atender melhor ao interesse nacional, voltar a investir para exportar, reaproximar-se da economia internacional e se integrar às cadeias globais de produção.


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