Folha de S. Paulo


País líder no consumo de luxo, China 'sabota' desfile da Victoria's Secret

Era para ser o maior encontro de "angels" do ano em uma passarela repleta de estrelas pop e peças de lingerie luxuosas. Mas o tradicional desfile anual da Victoria's Secret, que será gravado na segunda-feira (20), em Xangai, na China, se transformou em um pesadelo para a grife americana.

Nesta sexta-feira (17), algumas das maiores tops da falange, incluindo a baiana Adriana Lima e a californiana Gigi Hadid, estrela da nova safra de "bombshells", foram avisadas que seus vistos haviam sido negados pelo governo chinês.

Além delas, a cantora americana Katy Perry também teve entrada impedida pelas autoridades do país.

O motivo da negativa a Adriana Lima não foi esclarecido nem pela Victoria's Secret nem pela China, que explicou o episódio como "problema diplomático".

Hadid, no entanto, teve sua entrada negada por causa de uma foto publicada no Instagram de sua irmã, Bella Hadid, em fevereiro deste ano, na qual a modelo simula o rosto de um Buda que segura nas mãos.

A foto repercutiu em países asiáticos e a top chegou a receber ameaças de internautas, que a acusavam de racismo e pediam para ela nunca mais pisar no continente. Tanto Bella quanto Gigi ficarão de fora desta edição do desfile da Victoria's Secret.

As alegações contra Katy Perry têm explicação política. Após informar que o visto seria aprovado, o governo chinês voltou atrás na decisão quando recuperou um vídeo de um show feito pela cantora há dois anos, em Taipei, capital de Taiwan.

Usando um vestido com girassóis, símbolo dos protestos anti-China promovidos por quem defende a independência da ilha, Perry levantou a bandeira de Taiwan, ato visto pelas autoridades como apoio à causa separatista.

Katy Perry com a bandeira de Taiwan durante show

O imbróglio envolvendo as celebridades neste desfile é o último de uma série de problemas que a China, país que representa mais de 30% do consumo de bens de luxo no mundo e, por exemplo, responde por metade das vendas da marca Louis Vuitton, está causando para o evento.

Jornalistas e celebridades virtuais já cancelaram presença no desfile por não terem conseguido visto para entrar no país. Ao mesmo tempo, equipes de vídeo relataram à imprensa americana dificuldades com autorizações de imagem.

Segundo fonte anônima ouvida pelo jornal "New York Post", as notícias sobre a produção, orçada em mais de R$ 65 milhões, terão de passar por agências chinesas antes de serem divulgadas para o mundo.

Mesmo com todas as barreiras, as marcas de moda parecem estar dispostas a fechar os olhos para gargalos políticos.

Antes da Victoria's Secret, a Chanel promoveu, na terça-feira (7), em Chengdu, no sudoeste da China, uma reprise do desfile de "cruise" realizado no mês de maio em Paris. A plateia era majoritariamente chinesa.

Esses desfiles, da marca francesa e da americana, revelam o esforço da moda em abraçar qualquer realidade, mesmo que ela vá de encontro aos valores de liberdade de expressão que ela tanto prega.

Mauro Franceschetti/Divulgação
A modelo Gigi Hadid, no centro, exibe criação da Victoria's Secret durante desfile da grife em Paris, em 2016
A modelo Gigi Hadid, no centro, exibe criação da Victoria's Secret em desfile da grife em Paris, em 2016

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