Folha de S. Paulo


Óculos prometem controlar stress e melhorar desempenho cognitivo

Após o fracasso comercial do Google Glass, uma espécie de óculos que usa realidade aumentada para fotografar e mandar e-mails, a empresa italiana Safilo lançará em outubro, no mercado americano, seu primeiro acessório inteligente a trazer algum benefício prático e estético para o usuário.

Foram gastos cerca de R$ 12 milhões e dois anos de pesquisa junto à empresa canadense Interaxon, especializada em tecnologia de detecção de ondas cerebrais, para chegar à plataforma SafiloX, aplicada a um modelo de óculos capaz de captar os níveis de stress e atenção da pessoa e enviar, via Bluetooth, as informações para um smartphone.

Por meio de cinco microssensores embutidos nas hastes e no meio da peça, o acessório produz gráficos das ondas cerebrais e identifica qualquer alteração no movimento dos olhos. A partir dos cálculos gerados pela medição, um aplicativo sugere exercícios de relaxamento.

O modelo que será vendido é o da marca de óculos esportivos Smith, famosa entre surfistas e praticantes de modalidade que exigem níveis de atenção elevados, e custará quase R$ 1.200 na loja on-line da marca. Ainda não há previsão de vendê-lo em lojas físicas brasileiras.

Diferentemente da maioria das tecnologias vestíveis disponíveis no mercado, o modelo Smith não parece uma geringonça tecnológica. As lentes espelhadas devem agradar aos compradores jovens, público-alvo desse lançamento.

A coluna testou o modelo e uma versão demo do aplicativo de relaxamento. Sons de mar, pássaros e vento soaram pelo fone de ouvido no início do exercício, que de fato fez o gráfico de ondas cerebrais mostrar um estado de relaxamento maior do que os registros dos primeiros segundos do teste. Os níveis de desatenção também só foram registrados no início do exercício.

Segundo o diretor de inovação da Safilo, Nicola Belli, um estudo com 40 universitários mostrou que o uso diário da plataforma, "que funciona como um jogo com vários desafios diferentes", melhora o desempenho cognitivo.

Os dados mostram que os níveis de stress diminuíram, assim como os sintomas de percepção de "hostilidade" em relação ao mundo - estima-se que, nos Estados Unidos, 10,5 milhões de estudantes usam algum medicamento para combater ansiedade e stress.

Outro resultado animador é que o nível de precisão nas respostas de um grupo de estudantes que usou o dispositivo diariamente foi quatro vezes maior de um outro que o usou a cada duas semanas, durante um mês. Belli afirma que a partir dos resultados preliminares será possível aplicar a plataforma em modelos de óculos de grau a partir do próximo ano.

A Safilo trabalha agora para desenvolver uma nova fase do projeto direcionada ao setor automotivo. Como a decodificação das ondas também revela o nível de atenção da pessoa e os sinais de sonolência seis minutos antes dos olhos fecharem, o dispositivo poderia vigiar o estado do motorista e informá-lo sobre um perigo iminente de desatenção.

"O problema disso é que ainda não sabemos como fazer a plataforma avisar o condutor sem tirar a atenção dele para a estrada", explica o executivo.


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