Folha de S. Paulo


Baile do Met pinta mundinho sem graça e retocado da moda

O Met Gala, baile organizado pelo Constume Institute do Metropolitan Museum, de Nova York, em parceria com a "Vogue" americana, virou de festa mais exclusiva do mundo a bailinho de formatura. O que era para ser o maior evento de moda do ano virou vexame televisionado, uma prova de que o mundinho fashionista perdeu a graça e o senso de autocrítica.

Sobraram brilhos, paetês, decotes e fendas no tapete vermelho, faltaram reverência à "dona" da noite e roupas que despertassem algum interesse, um incômodo estético que justificasse tantos flashes e celeuma em torno do convescote.

A homenageada deste ano foi a estilista japonesa Rei Kawakubo, da Comme des Garçons, segunda designer de moda a ganhar uma mostra do Metropolitan ainda em vida —o primeiro foi Yves Saint Laurent, em 1983.

Estrela do movimento japonista dos anos 1980, que, além dela, colocou no panteão da semana de Paris os estilistas Issey Miyake e Yohji Yamamoto, Kawakubo não emprestou roupa a nenhuma celebridade. Talvez previsse a quantidade de ajustes na cintura e caretas que teria de aguentar.

É preciso dizer, a roupa dela não cabe na beleza retocada vendida nas premiações de Hollywood, que hoje servem de vitrines para as coleções de alta-costura das grifes que mantêm contratos com as atrizes. Kawakubo usa formas contrastantes, recortes e assimetria para criar roupas difíceis de serem assumidas por um público acostumado ao jeans e à camiseta.

Mas é exatamente o estranhamento, a distância que ela mantém de qualquer tendência ou modismo, que baliza o fascínio da parcela fashionista apaixonada por suas criações. E afinal, é a "antimoda", para citar a definição dos críticos de arte sobre o trabalho da estilista, o motivo de existir a exposição "Rei Kawakubo/Comme des Garçons: Art of the In-Between".

Ninguém é obrigado a concordar ou vestir uma ideia, mas seria educado pelo menos tentar se adequar ao "dress code". Nem mesmo as anfitriãs da festa, a cantora Katy Perry, a modelo Gisele Bündchen e a diretora da "Vogue", Anna Wintour, chegaram perto dos pilares de Kawakubo. A cantora foi de Maison Margiela Artisanal, desenhado por John Galliano; a modelo, com um longo sustentável de Stella McCartney, e a jornalista, de Chanel.

A cantora Rihanna, o músico Pharrell Williams e sua mulher, a modelo Helen Lascichanh, foram dos poucos convidados a vestir a grife japonesa. Não ficaram alheios à saraivada de memes na internet —e quem está?—, mas pelo menos não perderam por W.O.


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