A entrada da primeira mulher no cargo máximo do estilo da grife francesa Christian Dior produziu um bem-vindo efeito manada na moda. Logo após a contratação da italiana Maria Grazia Chiuri, no ano passado, o feminismo defendido por ela em seus desfiles virou locomotiva de negócios, grifes e rede de fast-fashion no mercado nacional.
No início do ano, pequenas marcas focadas em venda on-line passaram a utilizar o mesmo teor político das camisetas Dior com o escrito "we should all be feminists" (todos devemos ser feministas), referência de Chiuri a um texto da escritora nigeriana e ativista Chimamanda Adichie.
"Grl Power", "Feminist" e "#GirlBoss" viraram, respectivamente, estampa para as roupas das marcas Sri Clothing, Giu Couture e 787 Shirts. Todas levantam a bandeira do feminismo.
Segundo a empresária e jornalista Giuliana Mesquita, que vende via Instagram as camisetas de R$ 80 produzidas sob encomenda pela Giu Couture, "feminist" é a palavra mais pedida pelos clientes, que escolhem qualquer escrito para ser bordado à mão na peça.
O manifesto foi assimilado por nomes consolidados do varejo. A grife Ellus 2ndFloor apresentou, na última São Paulo Fashion Week, uma coleção toda inspirada na Mulher Maravilha, personagem dos quadrinhos que foi um dos primeiros a representar a mulher em posição de comando.
A insígnia da heroína e as cores vermelha e azul do seu uniforme são alguns do detalhes que formam as referências da coleção à estética militar do desenho.
Mais acessível, uma versão fast-fashion da personagem acaba de entrar nas lojas da C&A. Jaquetas, coletes e calças com referências à Mulher Maravilha foram lançadas pela marca em parceria com o estúdio DC Comics, que além da moça liberou as imagens de The Flash, Batman e Super-Homem.
Quem também pegou carona no "empoderamento" foi o estilista Fabio Resende, chefe de estilo da grife mineira Frutacor. Ele mostrou no desfile de abertura da feira de negócios Minas Trend, na segunda-feira (3), em Belo Horizonte, uma camiseta com a palavra Fêmea impressa.
A peça compõe a primeira coleção da grife de Resende, a Miêtta, que agradou com o discurso de "enaltecer a força feminina", levando o segundo lugar do prêmio Ready To Go, criado pelo evento mineiro para apoiar revelações da indústria local.
Essa ideia de atingir o público feminino por meio de mensagens feministas começa a ecoar também nas práticas internas das empresas de moda.
A grife mineira de lingerie Potti Romã, por exemplo, aderiu a uma política de só trabalhar com mão de obra feminina. Neste mês, a marca da designer Lu Borges lançou um clube de assinaturas para estimular pequenas artesãs e empresas geridas por mulheres.
Por R$ 64 mensais, uma caixa é enviada às clientes com um kit composto por uma lingerie da marca e algum produto produzido por mulheres, de artesanato a comida.
É a mesma lógica de identificação entre criador e público-alvo usada pelas grifes internacionais. Além da Dior, com Maria Grazia Chiuri, e da Lanvin, com Bouchra Jarrar, no mês passado a grife Givenchy anunciou a contratação da ex-estilista da marca Cholé, Claire Waight Keller, para a direção criativa da etiqueta.
Ela é a primeira mulher a assumir o estilo da casa francesa e ficou famosa por desenhar roupas minimalistas de apelo "feminista".
Uma das coleções mais comentadas de sua carreira na Chloé foi a de verão 2017, inspirada na escritora francesa Anne-France Dautheville, feminista que nos anos 1970 se tornou a primeira mulher a rodar o mundo montada numa motocicleta.
Seja base para enlatado ou produto genuíno, o slogan "de mulher pra mulher" já é a embalagem mais "cool" na indústria da moda.