Folha de S. Paulo


Colarinho de Doria é tendência no meio político, diz alfaiate

Na semana em que o empresário João Doria venceu a disputa para prefeito de São Paulo, em outubro, o telefone do alfaiate Christiano D'Carlos, 43, não parou de tocar pelo mesmo motivo: políticos, empresários e poderosos queriam o colarinho, alto e rígido, usado pelo tucano neófito.

Quando três governadores e "um assessor de ministro" fizeram o mesmo pedido, D'Carlos, segredo tão bem guardado dos guarda-roupas da elite empresarial quanto os nomes dos clientes que cortam com ele, sabia que não se tratava de tendência passageira. O detalhe incomum, cerca de 1 cm mais alto do que a média de 2,5 cm, voltara à lista de encomendas.

Nas semanas seguintes ao pleito, o excesso de pano registrou procura 20% maior no comparativo dos últimos três anos, período em que ficou esquecido na mesa de costura do alfaiate e dono da tradicional Camisaria Turquesa.

Divulgação
Alfaiate Christiano D'Carlos
Alfaiate Christiano D'Carlos

"Cortei 30 camisas de colarinho alto logo depois [da eleição]", diz ele, que só afirmou ter o novo prefeito como cliente porque o empresário nunca escondeu a procedência do seu armário. A grife americana Ralph Lauren, por exemplo, é comum nas produções de Doria e ficou marcada como uniforme da campanha à prefeitura. "Ele é eclético."

Foi em 2009 que o dono da Lide começou a frequentar o ponto da alameda Lorena, no bairro dos Jardins, próximo às diversas casas especializadas no corte sob medida para homens.

Segundo D'Carlos, o novo prefeito chegou a encomendar à Turquesa 50 peças por ano, entre "quadriculados largos, no estilo italiano, e lisas nas cores azuis ou brancas".

O último encontro para tirar medidas aconteceu no ano passado, antes do anúncio da candidatura e dentro da sede do grupo Doria. O luxo é dispensado aos clientes íntimos do ateliê, que gastam entre R$ 490 e R$ 1.500 por uma peça de tecido importado –o prefeito prefere os italianos feitos de algodão egípcio e fios 100 e 120, maleáveis e de toque sedoso.

Colarinhos altos, o estilista afirma, têm a mesma função do decote feminino, que é "de transmitir imponência". No caso de Doria, o detalhe está sempre para fora do suéter de cashmere ou dos blazers ajustados ao corpo.

"É uma imagem moderna. O colarinho proeminente serve como substituto da gravata", explica. O tucano não costuma usar gravata e chegou a pedir aos secretários de seu governo para que também não as usassem.

"Ele também gosta de botões na ponta da gola ou no pé do colarinho. Antes usava os dois, um padrão mais exagerado, mas faz um tempo que prefere [aplicações] mais simples."

Na camisaria fundada pelo D'Carlos "pai", o baiano João Vieira de Andrade, morto em 2014 e cujas tesouras eram as preferidas do cantor Cauby Peixoto (1931-2016) e dos apresentadores Silvio Santos e Chacrinha (1917-1988), monogramas são bordados com frequência.

Doria grava as iniciais "JD", seguindo um padrão de vestimenta típico das famílias tradicionais europeias e de clientes em busca de personalização.

"É uma questão bem pessoal. Antes o monograma se usava quase como símbolo de nobreza. Hoje, ou é uma questão de vaidade ou de status social. Em ambos os casos, é um detalhe que denota um desejo de se expor", diz o alfaiate.


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