Folha de S. Paulo


'Fashionista' brasileiro prefere preço a qualidade e esnoba 'tendência'

Aquela história de que quem curte moda está bem mais interessado na qualidade da peça do que no valor pago por ela nunca foi verdade. Pelo menos, não no Brasil. É o que aponta o primeiro estudo sobre os hábitos dos "fashionistas" brasileiros, fatia do mercado consumidor do qual só se houve falar, mas ninguém sabe exatamente quem é, nem quanto gasta, nem como compra.

Esta coluna teve acesso ao conteúdo completo do "Perfil do Público Fashionista Brasileiro", pesquisa realizada entre julho e setembro deste ano pela empresa de tecnologia Yahoo!, com perguntas sobre os hábitos de consumo de 1.100 "apaixonados por moda".

Primeiramente, todo mês é natal para um "fashionista". A média mensal de gastos desse público é de R$ 578 em cosméticos, acessórios, sapatos e vestuário, cerca de R$ 40 a mais do que gasta um paulistano nos presentes de fim de ano.

Para 80% dessas pessoas o preço conta mais do que a qualidade, citada por 75% dos entrevistados como sendo fator decisivo para a compra. O indicador "promoções" está logo atrás, com 59% de influência na aquisição do produto.

Curiosamente, estar na última moda significa alguma coisa para apenas 7% das pessoas, o que denota alinhamento do brasileiro com a ordem mundial de escolher roupas conforme o gosto pessoal, e não como ferramenta de afirmação para os outros.

Nomes de marca também não influem tanto no momento de passar o cartão. Apenas 28% dos fashionistas veem valor na etiqueta colada na peça.

Comerciais de TV (21%), sites especializados (18%) e revistas de moda (12%) ainda são citados como fontes de informação, mas o fenômeno recente das redes sociais, ou seja, a opinião de amigos em comum, já é relevante para 22% dos "antenados". Blogs e fóruns, surpreendentemente, foram citados apenas por 9% das pessoas.

Metade desse segmento vem de famílias que acumulam mais de R$ 3.000 por mês. Do total de entrevistados, 13% estão na faixa de renda mensal acima dos R$ 9.000.

Do ponto de vista da autoanálise, os ditos "fashionistas" brasileiros são modestos, não se enxergam como modelos de estilo. Apenas 14% deles se veem como "trendsetters" ou influenciadores, ainda que 28% digam que familiares e amigos lhe pedem dicas de estilo ou beleza.

A conhecida paixão brasileiro por cosméticos e produtos de cuidados pessoais se reflete na pesquisa. Quase quatro em cada cinco pessoas compram ao menos um hidratante, óleo essencial ou produto para cabelo todos os meses. Três em cada cinco entrevistados compram uma peça de roupa por mês, e, mais da metade, ao menos um par de sapatos.

É claro que os números trazem um panorama superficial do consumo de moda, até porque não foram especificados os locais onde vivem esses consumidores e, como os hábitos e necessidades mudam de região para região, é difícil estipular um perfil único para eles.

Os dados coletados, no entanto, ajudam a entender onde a moda do país está. O fato de preço e pechincha estarem junto à qualidade na lista dos primeiros fatores de importância mostra a consciência do brasileiro, mesmo aquele "apaixonado por moda", com o próprio bolso.

É também aviso para as marcas que pregam dígitos demais num produto sem motivo real, com a ideia de que um "entendido" pagará pela etiqueta.

Grifes essas que, aliás, devem reavaliar seu poder de sedução, porque se seus nomes não remexem tanto a cabeça do "fashionista", na do consumidor "normal" nem faísca devem acender.


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