Folha de S. Paulo


Estereótipo do 'Brasil sexy' é vantajoso para estilistas

Bunda, caipirinha, Amazônia, bossa nova e futebol. Se para a maioria dos estilistas a soma desses fatores pode desvalorizar a imagem do produto de moda brasileiro, para os compradores internacionais é uma das melhores equações para atrair o consumidor estrangeiro.

O e-commerce inglês Farfetch lançou nesta semana o projeto "Destination Brazil", que consiste numa página onde 16 marcas nacionais - apenas uma, a Zapalla, é masculina -, vendem vestidos, calças, biquínis, bolsas e sapatos. Todos elas, em menor ou maior grau, são representantes da ala "exótico chique" do varejo de luxo.

As rendas da estilista Martha Medeiros, os biquínis da Blue Man e de Lenny Niemeyer, o futebol luxuoso da penúltima coleção da Osklen e o couro tropical de Patrícia Vieira figuram na homepage da butique online, com direito a vídeo que mostra o sol, a praia e a arquitetura modernista brasileira.

"Estilista que não tira proveito do estereótipo do Brasil sexy está errado. Há uma imagem sobre o país que prevalece no imaginário dos consumidores e que é vantajosa para as vendas", diz o português José Neves, CEO e fundador da Farfetch.

Ou seja, todas as imagens que desde a criação do primeiro grande evento de moda brasileiro, o Phytoervas Fashion, há duas décadas, os estilistas e empresários querem enterrar, são os chamarizes do projeto.

Na primeira metade dos anos 2000, diversas marcas brasileiras entraram no mercado internacional - Estados Unidos, Japão e Itália foram as apostas da maioria dos designers - com a ideia de que o Brasil estava na moda.

Mas além dos valores altíssimos praticados na vitrine, fruto de uma péssima estratégia de custo e de logística, as etiquetas vendiam uma moda muito próxima da que suas concorrentes estrangeiras ofereciam.

Somado a isso, os empresários não tinham dinheiro suficiente em caixa para aguentar as flutuações do câmbio e muito menos fôlego para resistir à crise de 2008 que se instalou no hemisfério norte.

Nessa nova operação, a logística da entrega das peças fica a cargo da Farfetch, que em até cinco dias úteis as entrega em qualquer lugar do mundo.

"O risco de perdas é mais baixo se comparado às parcerias que multimarcas estrangeiras fizeram com estilistas do Brasil no passado. Não temos estoque, atendemos por demanda e o plano é de longo prazo. Não é uma ação pontual. Daquie há três anos elas continuarão vendendo no site", afirma Neves.

Os preços, no entanto, não são tão competitivos. Um vestido de Martha Medeiros, item mais caro da seleção do site, sai por quase R$ 12 mil. Já o mais barato, um biquíni simples da Blue Man, quase R$ 200. lista de estilistas irá aumentar nos próximos meses. Alexandre Herchcovitch, de acordo com o empresário, é um dos nomes que o e-commerce quer trabalhar numa nova safra de marcas.

"Não é de um dia para o outro que os estrangeiros vão conhecer a moda brasileira. Até porque, a grande maioria dos consumidores não se importa com a nacionalidade do estilista, querem apenas roupas de qualidade que não encontram nas outras. O Brasil não pode pensar que sai na frente dos russos ou dos australianos, por exemplo, na criação de moda", diz o empresário.


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