Folha de S. Paulo


Marcas se reúnem para criar federação de moda no Brasil

Os donos das grifes TNG, Dudalina, Vivara, Camisaria Colombo e do grupo Valdac, proprietário das etiquetas Siberian, Crawford e Memove, estão em contato para formatar a primeira federação de moda do país.

Entre os objetivos da nova entidade estará a proteção do varejo de moda brasileiro, "prejudicado pela entrada de grifes estrangeiras no país", segundo o empresário Tito Bessa Jr., da TNG, e que "gozam de regalias tanto do governo quanto dos shopping centers, que subsidiam sua instalação nos centros comerciais".

É Bessa quem está convocando as marcas para a conversa e, de acordo com ele, outros grupos poderosos serão chamados para integrar a iniciativa. Na mira dos empresários também está a AMC Têxtil, de Alexandre Menegotti, dono das marcas Colcci, Forum e Triton.

"Não temos nenhuma entidade que represente o varejo de moda de ponta a ponta da cadeia [da produção à venda]. E, por isso, podemos enfrentar uma crise sem precedentes. Chegou a hora de defender interesses comuns e não de uma ou outra marca, como aconteceu nas outras vezes em que se discutiu criar uma federação", diz ele.

O alarde criado pela rede americana de fast fashion Forever 21, que instalou lojas no Rio e em São Paulo, no mês passado, com filas quilométricas de consumidores à procura de pechinchas, acendeu o alerta dos varejistas.

Segundo Tito Bessa Jr., nem a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) nem a Abest (Associação Brasileira dos Estilistas) conseguiram unir os elos da cadeia produtiva e promover ações que protejam a indústria da moda. "Eu, por exemplo, pago R$ 70 milhões em impostos, produzo seis milhões de peças por ano e não vejo nenhuma garantia para meu negócio nos próximos anos. Esse problema é geral."

A exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, com o Conselho de Designers de Moda da América, e na Itália, por meio da Câmara Nacional da Moda Italiana, os empresários estão dispostos a criar fundos de incentivo para jovens estilistas.

O modelo de subsídio, usado para incentivar a criação de moda do país, consiste em arrecadar um montante de dinheiro dos associados de acordo com seu tamanho e volume de vendas.

"Também não podemos pensar em internacionalizar a moda, como querem fazer algumas marcas nacionais, se no país podemos perder relevância. Além disso, os preços no mercado externo não são nada competitivos", diz Bessa.

Ele cita o fiasco que foi a ação de marcas de luxo brasileiras no centro de compras francês Le Bon Marché, no ano passado.

Roupas de designers como Reinaldo Lourenço, Pedro Lourenço e as da grife Osklen, encalharam nos estoques da loja de departamentos, com preços que ultrapassavam R$ 3 mil.

Pão de queijo, sandálias Havaianas e sabonetes Phebo foram os itens que não deixaram o projeto, intitulado "Le Brésil Rive Gauche", ser tornar um fracasso total.

"Todos os empresários estão conscientes das fragilidades do sistema e isso não tem nada a ver com carga tributária, porque em vários estados, como Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul, é possível produzir com incentivo fiscal. Estamos falando de competitividade", afirma o executivo.


Endereço da página: