Folha de S. Paulo


A crise de inverno e o novo Fashion Rio

Um recomeço para o Fashion Rio começa a ser esboçado. Há pelo menos dois anos em crise de identidade, o evento carioca de desfiles passará a ter uma edição de alto verão e deverá, embora os organizadores não comentem o assunto, excluir da agenda a temporada de inverno.

Insignificante do ponto de vista conceitual e fraca em novidades, a edição de inverno sempre foi criticada, com razão, pela imprensa especializada, que não entendia como um evento "tropical" poderia apresentar moda de qualidade para o frio. Editores importantes, aliás, já nem acompanhavam os desfiles.

Antes sustentada por uma cartela considerável de patrocinadores, a Luminosidade - empresa que detém as semanas de moda mais importantes do Brasil - viu o número de apoiadores minguar nos últimos dois anos.

Também pesou nessa nova configuração o fracasso do salão de negócios Rio-à-Porter, que concorria diretamente com o Fashion Business da empresária Eloysa Simão. No ano passado, os dois salões se uniram num outro bolsão, intitulado Bossa Nova, que neste ano não será realizado.

A versão oficial é a falta de estrutura do Píer Mauá, onde ocorrem os desfiles e o evento de negócios. Um discurso um tanto duvidoso, já que a Marina da Glória e o Jockey Clube, que já abrigaram outras temporadas, resolveriam o problema de espaço.

Um ponto que merece atenção e denota a dificuldade em sustentar um evento que nunca conseguiu de fato ser o complemento da São Paulo Fashion Week é que, nesta temporada de verão 2015, em abril, a semana de cinco dias terá apenas quatro.

Menos um dia de desfiles numa temporada pré-Copa e que é a mais importante para a cidade - quando grifes como Blue Man, Salinas e Lenny mostram suas coleções de bíquinis, sungas e maiôs de luxo - é difícil de engolir.

O papo de reestruturação e adequação de agenda com a temporada internacional já não cola. A falta de dinheiro e o descrédito da imprensa (é cada vez menor o número de jornalistas estrangeiros que cobrem o evento) talvez expliquem o momento, que abre a discussão sobre a necessidade de se criar uma câmara de moda brasileira.

Em países como Estados Unidos, França e Itália, os eventos são organizados pela própria indústria da moda, não por uma empresa. As marcas associadas pagam quantias - que poderiam ser adequadas para a realidade da moda nacional - compatíveis com o seu tamanho e os patrocinadores têm contratos de longo prazo.

Além de haver prêmios e financiamento para jovens estilistas - escolhidos por curadores de diversos segmentos da indústria cultural -, as câmaras abraçam de maneira uniforme todos os cantos de seu país, não apenas grupos específicos de estilistas bem relacionados.

As mudanças, enfim, chegam em momento oportuno. Desde a compra do evento Rio Summer, criado pelo publicitário Nizan Guanaes, comenta-se o retorno dos desfiles de alto verão no Rio.

Essa nova temporada concorrerá diretamente com o "beachwear" da Miami Fashion Week e, se bem orquestrada, poderá recolocar a cidade no ranking das mais importantes do mundo para a moda.


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