Ando assistindo a programas de cozinha na TV, e a maioria deles trata apenas da culinária, ou seja, a forma de trabalhar as substâncias, a maneira de usar os alimentos. Fiquei pensando na gastronomia, que engloba a culinária (forma de cozinhar), os restaurantes, (lugar pra comer), a decoração do ambiente e da mesa, a apresentação dos pratos e a música para embalar esse momento de saúde e prazer.
Os programas precisam incluir de fato a gastronomia. Como levar essa alegria de viver que é comer, e tudo que engloba esse momento, essa prática, para a casa das pessoas?
Cozinha é um lugar de alegria, de muita alegria. Mas na televisão ou nós temos um cozinheiro solitário ou uma competição para eliminar o outro. Só um ou outro tem convidados ou vai até a horta -mas sempre é tudo muito formal.
Não estou falando de anarquia de forma popular nem de bagunça. Abra um vinho, sirva um conhaque, ligue o som e deixe a câmera ligada. Cadê a conversa?
Diga o que você quiser, mas apresente a comida, fale dela, cante uma música, dê uma dançadinha. As comidas têm suas histórias, seus descobridores, sua graça. A delícia de estar num lugar quente, com amigos bebendo e contando histórias.
Quando eu gravei com o Claude Troigros, ele me disse que, na casa dele, a cozinha era uma festa, principalmente porque a mãe dele é italiana; eles cantavam muito na cozinha. O melhor nessas horas é criar a própria canção para o momento.
Não faz sentido colocarem no ar apenas "cursos"de culinária. A encenação, seja ela qual for, deve ser sempre muito bem sugerida. Cenários de estúdio não estão com nada.
Cadê a celebração? Porque não se trata só de um corpo bem alimentado, mas de alimentar também a alma, alimentar o espectador além da nutrição, além das dicas de tempero: esperar pela comida celebrando. A espera por uma carne assada é um momento todo especial! Que continuem os programas de culinária, mas eu quero ver a gastronomia como uma grande arte na tela.
O escritor Umberto Eco diz que o ser humano nunca foi tão criativo quanto na cozinha! Claro!