Folha de S. Paulo


Lacunas partidárias de crescimento

Na semana passada, o "The Wall Street Journal" publicou um artigo de Carly Fiorina intitulado "Hillary Clinton é reprovada em Economia" ridicularizando as afirmações de Hillary de que a economia americana tem melhor desempenho sob o comando dos democratas. "Os Estados Unidos", declarou Fiorina, "precisam de alguém na Casa Branca que realmente saiba como funciona a economia".

Bem, podemos concordar com isso.

Um posicionamento partidário em relação à economia é, na verdade, muito estranho. Os republicanos falam sobre o crescimento econômico o tempo todo. Eles atacam os democratas por regulamentações governamentais que destroem empregos, prometem grandes coisas, se eleitos, baseiam seus planos fiscais no pressuposto de que o crescimento vai disparar e aumentar as receitas. Os democratas são muito mais cautelosos. No entanto, Hillary está completamente certa: historicamente, a economia tem, efetivamente, tido melhor desempenho sob o comando dos democratas.

Esse contraste levanta duas grandes questões. Em primeiro lugar, por que a economia teve um desempenho melhor com os democratas? Em segundo, dado esse registro, por que os republicanos são muito mais propensos do que os democratas a se vangloriar de sua capacidade de entregar crescimento?

Antes de eu chegar a essas perguntas, vamos falar sobre os fatos.

A aritmética das diferenças partidárias é realmente impressionante. No ano passado, os economistas Alan Blinder e Mark Watson divulgaram um documento comparando o desempenho econômico sob a liderança de presidentes democratas e republicanos desde 1947. Com os democratas, a economia cresceu em média 4,35% ao ano; com os republicanos, apenas 2,54%. Durante todo o período, a economia esteve em recessão por 49 trimestres; os democratas estavam na Casa Branca durante apenas oito deles.

Mas a história não é diferente nos anos de Obama? Não tanto quanto você pensa. Sim, a recuperação da grande recessão de 2007-2009 tem sido lenta. Mesmo assim, os números de Obama são favoráveis se comparados aos indicadores de George W. Bush. Em particular, apesar de toda a conversa sobre políticas destruidoras de postos de trabalho, o emprego no setor privado é oito milhões mais alto do que era quando Barack Obama tomou posse, o dobro do número alcançado com seu predecessor antes da recessão.
Por que é os números dos democratas são tão melhores? A resposta mais rápida é que nós não sabemos.

Blinder e Watson analisam uma variedade de explicações possíveis, mas não acham nenhuma delas muito convincente. Não há nenhuma indicação de que a vantagem democrata possa ser explicada por melhores políticas monetária e fiscal. Os democratas parecem, em média, ter tido mais sorte do que os republicanos com os preços do petróleo e com o progresso tecnológico. No geral, porém, o padrão permanece misterioso.

Certamente, nenhum candidato democrata poderia justificar uma promessa de crescimento dramaticamente superior, se eleito. E, de fato, eles nunca o fazem.

Os republicanos, no entanto, sempre fazem tais afirmações: todo candidato com uma chance real de conseguir a nomeação do Partido Republicano alega que seu plano de impostos produziria um enorme surto de crescimento - uma reivindicação que não tem base na experiência histórica. Por quê?

Parte da resposta é o fechamento epistêmico: conservadores modernos geralmente vivem em uma bolha na qual fatos inconvenientes não podem penetrar. Constantemente ouvimos afirmações de que Ronald Reagan alcançou crescimento econômico e de emprego nunca visto nem antes nem depois, quando a realidade é que Bill Clinton ultrapassou-o nas duas áreas. As notícias da mídia de direita alardeiam as decepções econômicas dos anos de Obama, enquanto quase nunca mencionam as notícias boas. Assim, o mito da superioridade econômica conservadora segue incontestado.

Além disso, porém, os republicanos precisam prometer milagres econômicos para vender as políticas que favorecem esmagadoramente a classe dos doadores.

Seria bom se, em nome da diversidade, mesmo um grande candidato republicano se revelasse contra os grandes cortes de impostos para o 1%. Mas nenhum o fez, e todos os grandes players têm defendido os cortes que subtraem trilhões da receita. Para compensar essa perda, seria necessário fazer cortes drásticos em grandes programas – isto é, na Seguridade Social e/ou no Medicare.

Mas os americanos acreditam esmagadoramente que os ricos pagam menos impostos do que seria justo e até mesmo os republicanos estão intimamente divididos sobre essa questão. E o público quer ver a expansão da Seguridade Social e não seu corte. Então, como pode um político vender a agenda de corte de impostos? A resposta é prometendo esses milagres, insistindo que os cortes de impostos sobre os rendimentos elevados iria se pagar e produzir ganhos econômicos maravilhosos.

Daí a assimetria entre os partidos. Os democratas podem se dar o luxo de serem cautelosos em suas promessas econômicas precisamente porque suas políticas podem ser vendidas baseadas em seus méritos. Os republicanos devem vender uma agenda essencialmente impopular declarando confiantemente que eles têm a receita final para a prosperidade – e esperando que ninguém aponte seus números historicamente pobres.

E, se alguém apontar esses dados, sabemos o que eles vão fazer: começar a gritar sobre a parcialidade da imprensa.

Tradução de MARIA PAULA AUTRAN


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