Folha de S. Paulo


Economia e eleições

O desempenho econômico do Reino Unido desde a crise financeira vem sendo espantosamente ruim. Uma recuperação incipiente surgiu em 2009, mas parou em 2010. Ainda que o crescimento tenha ressurgido em 2013, a renda per capita real só agora está retornando ao nível anterior à crise - o que significa que o Reino Unido apresenta desempenho econômico bem pior de 2007 para cá do que apresentou durante a Grande Depressão.

Mas enquanto o país se prepara para ir às urnas, os líderes do governo de coalizão que administra a Inglaterra desde 2010 posam de guardiões da prosperidade, e se apresentam como as pessoas que realmente sabem como gerir a economia. E estão, em geral, escapando impunes ao fazê-lo.

Existem lições importantes aqui, não só para o Reino Unido mas para todas as democracias que enfrentam dificuldades para administrar suas economias em períodos de adversidade. Tratarei dessas lições em breve.

Mas primeiro, permita-me perguntar como um governo britânico com desempenho econômico tão pobre está conseguindo disputar uma eleição com base em suas supostas realizações.

Bem, seria possível atribuir a culpa à fraqueza da oposição, que vem trabalhando pessimamente na apresentação de seu lado da história. Seria possível culpar a leviandade da mídia noticiosa, que compreendeu muita coisa incorretamente. Mas a verdade é que o que está acontecendo na política britânica é aquilo que quase sempre acontece, lá como em todos os demais países. Os eleitores têm memórias muito curtas, e julgam a política econômica não pelos resultados de longo prazo mas pelo crescimento recente. O histórico do governo de coalizão nos últimos cinco anos parece horrível. Mas vem sendo bem positivo nos dois últimos trimestres, e é isso que importa politicamente.

Ao fazer afirmações como essas, não estou me envolvendo em especulação casual, e sim me apoiando em um volume considerável de pesquisas de ciência política, com foco primordial nas disputas presidenciais dos Estados Unidos mas resultados claramente aplicáveis a outros países. Essas pesquisas desmentem quase todas as narrativas em estilo hípico que os sabichões da política tanto adoram - pouco importa quem vença o ciclo noticioso, ou quem consiga atender às supostas preocupações dos eleitores independentes. O que importa, principalmente, é o crescimento da renda imediatamente antes da eleição. E enfatizo o imediatamente. Estamos falando de um período menor que um ano, e talvez menor que um semestre.

E isso, se refletirmos a respeito, é um resultado perturbador, porque aponta que existe pouca ou nenhuma recompensa política por uma boa gestão da economia. Os líderes de um país podem fazer excelente trabalho na condução da economia por quatro ou cinco anos, mas ser derrubados de seus postos por conta de um período de fraqueza nos dois trimestres anteriores à eleição. De fato, as provas sugerem que a coisa mais inteligente a fazer, em termos políticos, poderia ser impor uma recessão sem motivo ao país por boa parte do mandato de um líder, mas deixar espaço para uma recuperação vigorosa pouco antes que os eleitores vão às urnas.

Na verdade, essa é uma descrição muito boa do que o atual governo britânico fez, ainda que não esteja claro que isso tenha sido deliberado.

O ponto, portanto, é que eleições - supostamente o momento em que um político precisa prestar contas - não parecem cumprir essa função muito bem, quando o assunto é política econômica. Mas será que existe algo que se possa fazer para sanar essa fraqueza?

Uma possível resposta, que atrai muitos sabichões, seria remover o processo decisório da política econômica da esfera política e entregá-lo a comissões de elite apartidárias. Isso envolve presumir que a elite saiba o que está fazendo, porém, e é difícil ver o que, nos últimos anos, levaria qualquer pessoa a acreditar nisso. Afinal, as elites norte-americanas passaram anos prisioneiras das teorias de Bowles-Simpson, uma obsessão completamente injustificada quanto a deficit orçamentários. As elites europeias, dado seu compromisso para com uma austeridade punitiva, foram ainda piores.

Uma resposta melhor e mais democrática seria buscar um eleitorado mais bem informado. Um aspecto realmente notável do debate econômico britânico é o contraste entre aquilo que passa por análise econômica na mídia noticiosa - mesmo nos jornais de primeira linha e nos programas de TV voltados à elite - e o consenso dos economistas profissionais. As reportagens muitas vezes retratam o recente crescimento como prova de que as políticas de austeridade se justificam, mas pesquisas com economistas apontam que apenas uma pequena minoria deles concorda com essa avaliação.

As afirmações de que o deficit orçamentário é o mais importante problema que o Reino Unido precisa enfrentar são apresentadas como factuais, quando na verdade são contenciosas, se não abertamente insensatas.

Assim, o noticiário sobre questões econômicas poderia e deveria ser imensamente melhor. Mas os cientistas políticos certamente minimizam a ideia de que isso faria diferença nos resultados eleitorais, e eles estão provavelmente certos.

O que aqueles de nós que estudam política econômica e se preocupam com os resultados reais deveriam fazer, portanto? A resposta, certamente, é que devemos fazer nosso trabalho: tentar encontrar as respostas certas, e explicar nossas respostas da maneira mais clara possível.

Em termos realistas, o impacto político disso será na melhor das hipóteses marginal. Que seja. Eleições determinam quem detém o poder, não quem detém a verdade.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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