Folha de S. Paulo


Cinema para todos

RIO DE JANEIRO - Guadalupe, bairro da zona norte do Rio, está a 30 km do centro. Surgiu de experiências de habitação popular do Estado Novo. Foi batizado com o nome da Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira das Américas, por sugestão da primeira-dama Darcy Vargas. Ocupa a 80ª posição em qualidade de vida entre os bairros do Rio.

Saiu do noticiário policial por causa do cinema. O Ponto Cine Guadalupe comemora dez anos em 2016 e é exemplo de raro projeto individual de sucesso em região marcada pela ausência da ação pública.

A sala, com 73 lugares, é a maior exibidora de filmes brasileiros do mundo e a única da América Latina a ter certificado de compensação de carbono. O cinema reduziu processos que liberam dióxido de carbono e compensou seu consumo plantando 18 mil árvores, numa área do tamanho de 27 campos de futebol.

Surgiu da paixão de um menino pelo cinema. Aos 9 anos, Adailton Medeiros criou um projetor de papelão para exibir imagens na sala de casa. Seguiu o instinto porque só aos 11 anos conheceu uma sala de cinema.

Estudou meteorologia, deixou o subúrbio carioca de Anchieta, onde nasceu, mudando-se para a Amazônia. Onze anos depois, ao regressar ao Rio, driblou chuvas e trovoadas para criar uma sala de cinema.

Decidiu que a programação seria dedicada ao cinema nacional. Cobra o ingresso mais barato do Rio –R$ 4 a meia entrada. Preocupou-se em tornar a sala 100% acessível, por meio de rampas e de tablets que oferecem tradução em libras, além de audiodescrição. Levou festivais de cinema, diretores e atores que moradores jamais imaginaram ver de perto.

Quase todo dia entra alguém que nunca vivenciou a experiência de assistir a um filme em tela grande e sala escura. Em tempo de downloads e streamings, formar espectador novo de cinema talvez seja mais um milagre de Nossa Senhora de Guadalupe.


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