Folha de S. Paulo


Passo o ponto

RIO DE JANEIRO - A rua Vinicius de Moraes é delimitada pela praia de Ipanema, na esquina com a Vieira Souto, e pela Lagoa Rodrigo de Freitas, margeada pela avenida Epitácio Pessoa. Chamada de Montenegro até 1980, mudou de nome em homenagem ao poeta, que ali viveu momentos de boemia no antigo bar Veloso. De lá observava a vida e a musa de "Garota de Ipanema" passar com seu corpo dourado a caminho do mar.

São apenas sete quarteirões. Nesta semana, placas de "passo o ponto" ou "aluga-se" decoravam seis pontos comerciais (quase 10% dos que estão à vista). No coração de um dos bairros mais turísticos do Rio, a crise assombra quem passa por lojas fechadas e obras abandonadas ao meio.

Dentro das típicas galerias comerciais do bairro –que se repetem a ponto de confundir o comprador que tenta revisitar uma vitrine–, sucedem-se estabelecimentos vazios.

Dados da empresa Buildings indicam o crescimento de imóveis vagos em 2015, chegando a 13% em toda a cidade; na zona sul, são 7%.

Esse cenário se completa com a queda assustadora do rendimento médio real da população ocupada no Rio, que teve a maior retração das seis principais regiões metropolitanas. Entre novembro de 2014 e novembro de 2015, houve redução de 10% contra a média de 8,8%, segundo o IBGE. Se considerados apenas os empregados no comércio, a queda foi ainda maior, de 16,4%.

O Rio passou da depressão de décadas perdidas à euforia iniciada com o sonho do pré-sal e a conquista da Copa e da Olimpíada. E agora?

No lugar das vitrines multicoloridas e de novos negócios, abandono e placas de aluga-se e passo o ponto.

Se o governador Pezão não reagir rápido, o próximo endereço desse cartaz pode ser o Palácio Guanabara, onde tropeça na herança que Sérgio Cabral lhe deixou. Que Vinicius esteja certo: o sofrimento é só o intervalo entre duas felicidades.


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