Folha de S. Paulo


O poço e seus dragões

RIO DE JANEIRO - Feriado no Rio. Dia de orações e promessas. São Jorge é santo de devoção de larga parcela da cidade. Para a Petrobras, um dia adequado para novo início.

Os números de 2014 são feios como dragão: R$ 21,6 bilhões de prejuízo (em 2013 houve lucro de R$ 23 bilhões), sendo que R$ 6,2 bilhões são considerados perdas por corrupção.

Com 159 dias de atraso, foi apresentado ao Conselho Administrativo o balanço do terceiro trimestre, auditado pela PricewaterhouseCoopers. Assim, a estatal pôde divulgar o resultado de seu ano mais atribulado.

É só o primeiro passo de um longo caminho. O conselho será modificado, a dívida de R$ 300 bilhões precisa ser equacionada e a revisão do plano de investimentos é fundamental para a empresa se reerguer. Junto com ela, o Rio e o país.

A economia fluminense foi uma das mais atingidas pela suspensão de contratos e paralisação de obras provocadas pela crise da Petrobras e a Operação Lava Jato. Se em todo o país a produção industrial está em queda, o Rio teve o recuo mais acentuado: em fevereiro, caiu 7,1% na comparação com janeiro, e 11,8% em relação a fevereiro de 2014.

O setor de petróleo e gás representa cerca de 30% da atividade econômica estadual. A estimativa era que daí viriam cerca 60% dos investimentos previstos entre 2014 e 2016.

Receitas com royalties do petróleo –que representam 10% do total do Estado– estão em queda. Considerando o primeiro trimestre, foram R$ 2,2 bilhões em 2013, R$ 1,6 bilhão em 2014 e R$ 1,5 bilhão em 2015 (em valores não corrigidos pela inflação).

Se ainda não é devoto, talvez o novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, devesse passar neste 23 de abril na igreja de Quintino para pedir proteção e ajuda a são Jorge para enfrentar seus dragões (queda do preço do barril, corrupção, inflação, dívidas, demissões). Para reerguer rapidamente a Petrobras, só milagre.


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