Folha de S. Paulo


Viagem ao Rio

RIO DE JANEIRO - Um barco flutua na baía de Guanabara. A foto antiga projetada em uma parede de 2,2 m por 9 m, maior do que a trave do Maracanã, impressiona. Mas, em vez do tamanho, atordoantes são os detalhes. Vislumbra-se um bote, que se apequena ao casco do cruzador Almirante Barroso, quando se percebe que o barco é muitas vezes maior.

Em três mastros, cortados por vigas de madeiras, são vistos vários pontos pretos e uma infinidade de cordas e fios. Lentamente, a imagem se aproxima. Parecem pássaros. Com a foto mais perto e nítida, por meio de câmera que esquadrinha seus detalhes, percebem-se alguns homens. E mais outros. Por fim, há dezenas deles dependurados nas velas do cruzador. Poderia ser uma performance artística, mas era só mais uma profissão existente em 1888.

A exposição "Rio: Primeiras Poses – Visões da Cidade a Partir da Chegada da Fotografia (1840-1930)", na sede carioca do Instituto Moreira Salles, é uma viagem. São 450 fotos produzidas durante nove décadas por fotógrafos pioneiros como os brasileiros Marc Ferrez e Augusto Malta, o suíço Georges Leuzinger e o francês Revert Henrique Klumb.

O projeto tecnológico amplia imagens de alta qualidade, nas quais é possível passear como se o espectador penetrasse nas cenas da cidade.

A avenida Central, com lampiões a gás e prédios que parecem Paris, surge em 1906 repleta de homens de terno e chapéu conversando nas calçadas. Contrasta com os areais desertos que eram Copacabana e Ipanema naquele início de século 20.

Pouco do Rio antigo chegou de pé ao século 21. Essa "espécie de capital contrastada do país do contraste", na definição da historiadora Armelle Enders, permanece desconhecida da maior parte dos brasileiros.

A exposição, que não vai para São Paulo, é a chance de conhecer de perto vários tempos dos 450 anos do Rio. É uma viagem que vale a viagem.


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