Folha de S. Paulo


Tiros e mais tiros

RIO DE JANEIRO - O Complexo do Alemão, 12 favelas espalhadas sobre a serra da Misericórdia, na zona norte, é simbólico na história da (in) segurança pública do Rio. Foi palco de três chacinas, somando 45 mortes. Tornou-se conhecido mundialmente em novembro de 2010, com as cenas de pés-rapados com rifles escapando de blindados militares que ocupavam os morros.

O fim do domínio do tráfico, a presença policial e a instalação de um teleférico permitiram melhorias no Alemão. A economia local cresceu, oportunidades de negócios surgiram. Foram implementados serviços ausentes, grandes empresas abriram filiais, houve geração de empregos.

Algo melhorou, mas a violência sempre rondou nestes cinco anos de ocupação e três de UPPs. Agora parece perto de ruir. Desde 2014, os tiroteios ficaram mais frequentes, dois soldados da UPP foram mortos, as balas perdidas voltaram a matar e ferir. Os abusos policiais cresceram.

O ano de 2015 teve 90 dias de tiroteios. Na quinta, o menino Eduardo de Jesus, 10, morreu com um tiro de fuzil na cabeça. Completam-se seis dias de paz num cenário de guerra.

Saem para reciclagem os policiais da UPP, formados para a pacificação. Entram forças especiais, como Bope e Batalhão de Choque, treinadas para matar. O governo começa a trocar as UPPs de latas por cabines blindadas. Policiais montam trincheiras.

O Ministério Público havia alertado para as más condições das instalações, para a falta de equipamentos e para as jornadas excessivas. Como se fosse surpresa, o governador Pezão prometeu construir as bases em regime de urgência, sem licitação.

O secretário José Mariano Beltrame repete que segurança não é só polícia. Mas ela é fundamental. Enquanto houver tantos soldados mal preparados, corruptos ou mal intencionados, as conquistas de sua gestão correm risco de desaparecer na velocidade de um tiro de fuzil.


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