Folha de S. Paulo


Como será o amanhã

RIO DE JANEIRO - Tradicionalmente deserta no Carnaval, São Paulo está sendo repovoada nesses dias. Lotada e intransponível, Salvador começa a se libertar de cordas e abadás pagos. O Carnaval do Rio ultrapassou o limite do Sambódromo.

Sem precisar de convite, de dinheiro ou muita produção, os blocos de rua tornaram-se a nova força do Carnaval no país. Ver um mar de gente no feriado em uma cidade como São Paulo, da qual os moradores costumam fugir em busca de paz e diversão, é boa notícia.

No Rio, o embate de quem quer se divertir na rua e quem sofre com interrupções no direito de ir e vir está amadurecendo. Planejamento, regras, campanhas de conscientização e presença do poder público permitem um melhor ajuste entre música, alegria e multidão, de um lado, e sujeira, barulho e desordem, de outro.

Aos poucos a cidade encontra um jeito razoável de coabitacão. A prefeitura melhorou a organização, aumentou o número de banheiros químicos, melhorou a coleta de lixo, passou a proteger prédios e jardins, promoveu a conversa entre moradores e organizadores de blocos, restringiu novos desfiles em bairros com excesso de eventos marcados.

Mais do que um problema, a multidão na rua simboliza a ressurreição da São Paulo turística. Melhor organizar o Carnaval do que tentar impedi-lo. A Vila Madalena precisa da definição de espaços de convivência, organização de pontos de apoio público, estabelecimento de horários e responsabilidades.

É infrutífera a gritaria contra os blocos de Carnaval. A busca da solução pode ser bom exercício de cidadania, de vida em sociedade e de mediação do Estado. Pode ser o momento de encontrar boa lição para um país que consegue colocar milhões de pessoas nas ruas, por tantos dias, divertindo-se como se não houvesse amanhã. Mas, teimoso, o amanhã sempre chega.


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