Folha de S. Paulo


Chuva, suor e cerveja

RIO DE JANEIRO - Era para ser tempo de comemoração. O Rio completa 450 anos de sua fundação em 1º de março. Prepara-se para realizar o evento mais importante de sua história: a Olimpíada de 2016. Em meio às obras que ambicionam transformar a cidade, falta remover os entulhos do planejamento deficiente e da operação mal executada.

Muito está por fazer. Haverá obras entregues na última hora. A estação Gávea da linha 4 do metrô, que se estende até a Barra da Tijuca originalmente para uso na Olimpíada, vai ficar para depois. A festa do prefeito Eduardo Paes provavelmente será incompleta. A inauguração do Museu do Amanhã, por exemplo, foi adiada.

Além da poeira das obras, a seca e a alta temperatura de janeiro fizeram brotar bolsões de terra em pontos da lagoa Rodrigo de Freitas. Com o nível da água abaixo da média, a concentração do oxigênio, que garante a qualidade da vida aquática, chegou ao estado de alerta.

Uma das mais belas áreas verdes da cidade, o parque do aterro do Flamengo, da época do quarto centenário, perdeu sua cor verde, com os gramados secos e a terra vermelha batida dominando o visual.

A chuva dos últimos dias encheu um pouco a lagoa. Temporais fortes em todo o Estado elevaram o nível da bacia do Paraíba do Sul na represa do Funil, que fica no Rio, apesar de as outras represas, em São Paulo, terem continuado a reduzir de volume.

Janeiro foi atípico. Só não foi o mais seco desde 2003 porque choveu no último dia. O início de fevereiro tem sido generoso em chuva.

No Carnaval, dias de temporal não costumavam ser bem-vindos. A escassez de água mudou tudo. Não haverá Carnaval mais feliz se for mantido na linha "chuva, suor e cerveja".

Que sirva para dar fôlego para enfrentar 2015, que promete falta de água, risco de apagão, preços em alta, aumento de impostos, corte nos investimentos e até balas perdidas.


Endereço da página: