Folha de S. Paulo


O ideal e o imobilismo

RIO DE JANEIRO - Sem nenhuma ligação entre si, Larissa, 4, Assafe, 9, Adriene, 21, e Diogo, 23, estão juntos no noticiário. Os quatro foram mortos por balas sem direção nos últimos dez dias no Rio. Em 2008, 219 pessoas foram vítimas de balas perdidas e 16 morreram. Esse número caiu até 2011, quando houve 81 feridos e 7 mortos. De lá para cá, esse e outros índices de criminalidade mostraram pioras sensíveis.

"As pessoas no Brasil reduziram segurança pública a polícia. É uma miopia. Segurança pública compreende vários atores: combate nas fronteiras, mudança de leis, Ministério Público, Justiça, políticas para o jovem. Se não olharmos de uma forma conjunta, como uma corrente em que a polícia é um elo, vai ser muito difícil mudarmos esse quadro", desabafou o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.

Apesar de o diagnóstico amplo estar correto, prender-se a ele significa aceitar as contingências e denuncia certo imobilismo. O governo do Rio parece emparedado, depois de ter avançado muito em segurança.

Não há dúvida. Polícia não é tudo. Para piorar, a polícia continua ruim. Matando muito e morrendo demais.

É preciso uma política nacional de segurança que vá além dos discursos e uma ação integrada de secretarias estaduais que consolide avanços obtidos (e agora ameaçados) com as UPPs. É urgente a reação dos órgãos de segurança locais, que inclua diagnóstico preciso da situação; trabalho técnico e irrepreensível de perícia e investigação; prisão de responsáveis, sejam policiais (o que serve de exemplo para a tropa), sejam traficantes (o que mostra o poder do Estado).

Beltrame tem razão no diagnóstico, mas parece cansado. Com ameaça de menos verba, não se deve desprezar a possibilidade de pedir para sair. O governador Pezão pode sugerir à amiga Dilma que ele seja mais útil em Brasília. Não há missão cumprida quando se trata de enxugar gelo.


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