Folha de S. Paulo


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RIO DE JANEIRO - São poucos os que se lembram da eleição, ocorrida há apenas um mês. Sem expectativa de grandes mudanças, como nos casos de reeleição, a pasmaceira impõe-se. Mas a prestação de contas dos gastos joga luz sobre detalhes da campanha ameaçados de virar irrelevantes por distração.

O governador reeleito do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), arrecadou R$ 45,2 milhões em doações. O valor é mais do que o dobro da soma do que todos os outros candidatos receberam. É o sêxtuplo da receita de seu adversário no segundo turno, o senador Marcelo Crivella (PRB) –que obteve R$ 6,7 milhões.

Como mostraram Italo Nogueira e Adriano Barcelos, na Folha, 69% dos recursos usados na campanha do peemedebista tiveram "origem oculta". São gastos pagos diretamente pelo comitê financeiro do PMDB-RJ ou pelo diretório estadual em material de campanha. A origem do dinheiro só aparecerá na prestação de contas do partido em 2015.

Não é um bom sinal.

Os oito anos de governo Cabral-Pezão estiveram longe de primar pela transparência. O governo negou ou dificultou o acesso a informações o quanto pôde. O Estado foi reprovado na apresentação de respostas satisfatórias de órgãos públicos a demandas por meio da Lei de Acesso à Informação, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas. Só respondeu a 38% dos pedidos feitos.

Entre as doações identificadas pela campanha de Pezão, a maior partiu da empresa do setor de alimentos JBS (R$ 2,4 milhões), seguida de três empreiteiras –Carioca Christiani-Nielsen Engenharia (R$ 1,9 milhão), OAS (R$ 1,2 milhão) e Concremat Engenharia (R$ 1 milhão). O Rio é um canteiro de obras.

Mudanças nas regras de financiamento de campanha estão emperradas. Os governos precisam fazer da gestão transparente uma obrigatoriedade. Não existe apoio grátis.


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