Folha de S. Paulo


Efeito colateral

RIO DE JANEIRO - Na hora do almoço, milhares descem dos vários prédios da Petrobras, com um crachá pendurado no peito por uma fita verde. É o símbolo de poder do consumo. Para cada vaga aberta na Petrobras, há 92 concorrentes. É quase o dobro da relação candidato/vaga para cursar medicina na USP.

Edifício recém-inaugurado pela empresa causou a revitalização de uma área na Lapa. Casarões abandonados foram transformados em restaurantes, lojas e escritórios de serviço. Outro prédio, a ser inaugurado na região do Sambódromo, começa a provocar efeito semelhante.

O Rio renasceu na última década. O crescimento econômico contou com grandes investimentos federais, em razão de Copa e Olimpíada, mercado imobiliário forte, retomada de parques industriais abandonados e ampliação dos serviços. Mas nada se compara à força injetada pela indústria ligada ao petróleo.

Um dos efeitos colaterais da Lava Jato pode ser derrubar a economia fluminense. O Rio tem hoje o maior rendimento médio do país e uma das menores taxas de desemprego. O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico estima que o petróleo represente 30% da economia. Previsão bilionária de investimentos do setor até 2016 está sob ameaça.

Concessionárias de serviços estaduais, empreiteiras investigadas –OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez– tocam obras decisivas: metrô, revitalização do Porto, Parque Olímpico e obras do PAC.

Não surpreende o governador Luiz Fernando Pezão ter saído em defesa delas. "São grandes empresas. Estão fazendo um trabalho extraordinário." Pelo menos OAS e Queiroz Galvão doaram para sua campanha.

Há ainda o temor de que as investigações arrebatem do ex-governador Sérgio Cabral ao deputado Eduardo Cunha (ambos do PMDB), passando pelo senador Lindbergh Farias (PT).

A recuperação do Rio está à prova.


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