Folha de S. Paulo


Religião e desconstrução

RIO DE JANEIRO - "Mais vale votar no candidato do bom nome do que no de muitas riquezas", pregou Marcelo Crivella (PRB) em seu programa eleitoral na TV. "Você quer o sobrinho do bispo Macedo no governo?", indagou o de Luiz Fernando Pezão (PMDB). Às acusações de "testa de ferro do bispo Macedo", Crivella responde com referências aos escândalos do PMDB e diz que os ataques não combinam com a índole do adversário. "Isso é coisa do Cabral."

A campanha ao governo do Rio desenrola-se entre questionamentos da idoneidade, provérbios bíblicos e a satanização da Igreja Universal. A divisão política tornou-se também religiosa, como mostra o Datafolha. Pezão tem 46% das intenções de voto contra 36% de Crivella. O peemedebista atinge 58% entre os católicos, estrato em que o candidato do PRB se restringe a 24%. Entre os evangélicos, Crivella sobe para 57% (pentecostais) e 56% (não pentecostais) e Pezão fica com 31% e 28%.

A temática religiosa dominou a campanha a partir de uma provocação do PMDB. O partido levou ao ar antiga reportagem da TV Globo que mostra o bispo Edir Macedo, líder da Universal e tio de Crivella, ensinando religiosos a tirar dinheiro dos fiéis. Crivella finge que não é com ele. Transformou seu horário eleitoral em programa de variedades. Canta, recita poesia e faz gracejos com Pezão.

Levantamentos feitos pelas campanhas mostravam um acirramento da disputa. Os números novos devem fazer o PMDB a reavaliar o tom agressivo do seu marketing. Pezão voltará a ser mostrado como bom moço.

Os debates, sempre antecedidos de cínicas declarações de que "é o momento de discutir propostas para que o eleitor possa definir o seu voto", têm assumido caráter de ringue eleitoral. Acusações, bate-boca, mentiras e ironias. A intenção única parece ser a desconstrução das personas criadas pelos marqueteiros. Discutir propostas? Não interessa.


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