Folha de S. Paulo


Função completa 27 anos, superando crises e discutindo formatos

Há 27 anos, a primeira página de 24 de setembro anunciava: "Ombudsman traz ao leitor os erros da Folha". Tratava-se da primeira coluna de Caio Túlio Costa, o primeiro ombudsman da imprensa brasileira.

O que mudou na Folha e no jornalismo? Propus essa questão a meus antecessores. Resumo a seguir o que me responderam e deixo no site a íntegra de suas ponderações.

"Mudou tudo", respondeu de forma direta Caio Túlio Costa. "Hoje, duas das maiores empresas de mídia do planeta (Google e Facebook) não produzem uma linha de conteúdo. Pior, os jornais não conseguem acompanhar a disrupção que o meio sofre desde que a internet existe e se agravou com as redes sociais."

Como descreveu Carlos Eduardo Lins da Silva, o negócio do jornalismo sofreu mudanças estruturais. "O resultado foi a perda de qualidade provocada pela incapacidade dos gestores de encontrar fórmulas lucrativas que sustentassem padrões de excelência. A resposta-padrão às dificuldades financeiras foi cortar pessoal e conteúdo. A Folha não escapou desse processo."

Marcelo Leite apontou um movimento perigoso: "Numa época em que as redes sociais amplificam a polarização ideológica, análise e interpretação jornalísticas, que deveriam abalar os edifícios de certeza, migraram das reportagens, hoje relatoriais em sua maioria, para colunas de opinião e edições especiais." Ele identificou ainda "incentivos estruturais para apurar e redigir mal: baixos salários, precariedade no emprego, sobrecarga, moral rebaixado pelas ondas de demissão".

Mario Vitor Santos reclamou do abandono da busca da equidistância. "Isso se expressa tanto nas reportagens como na edição, em troca do apoio jornalístico à derrubada, por motivações de natureza política, de uma presidente eleita, contra a qual não existe acusação de crime, seguida agora pelo apoio ao governo que resultou desse golpe."

Para Mário Magalhães, ombudsman entre 2007 e 2008, parte do jornalismo brasileiro vem se descaracterizando e transformando-se em propaganda. "Regressou ao partidarismo estouvado dos anos 1950. É crítico com uns e condescendente com outros. A opinião sufoca a informação. Muitas vezes, o que na forma é reportagem no conteúdo constitui editorial. Perde o jornalismo, os cidadãos perdem mais."

O que o jornal pode oferecer hoje para justificar sua existência e custo?, questiona Bernardo Ajzenberg, para quem o modelo atual está obsoleto. "Apuração jornalística inédita, captação de tendências, aprofundamento dos temas —maiores ou menores— da vida cotidiana, uma contribuição equilibrada para o debate político, econômico e cultural, uma prestação de serviços diferentes e especiais. Por que não radicalizar nessa direção?".


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