Folha de S. Paulo


Sem resultados no governo, Trump aposta em namoro com democratas

Kevin Lamarque/Reuters
Donald Trump com o republicano Mitch McConnell e os democratas Chuck Schumer e Nancy Pelosi
Donald Trump com o republicano Mitch McConnell e os democratas Chuck Schumer e Nancy Pelosi

Se os republicanos não resolverem o problema dele, o presidente Donald Trump não hesitará em se aliar aos odiados "Chuck e Nancy", o líder da minoria democrata no Senado, Charles (Chuck) Schumer, e a líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi.

É esse o recado que o republicano Trump vem passando para os membros de seu próprio partido, que estão cada vez mais perplexos.

Até agora, Trump não conseguiu fazer avançar nenhuma de suas prioridades de governo, apesar de o Senado e a Câmara serem controlados por seu partido.

O muro na fronteira do México, grande bandeira de sua campanha, não saiu do lugar, porque o Congresso americano não liberou recursos e o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, recusa-se a pagar, apesar das afirmações de Trump em contrário.

"Rejeitar e substituir" o Obamacare, a reforma do sistema de saúde implantada durante o governo de Barack Obama, também não vingou. Apesar de o Obamacare ser anátema para republicanos, nem entre eles o "repeal and replace" ganhou muita tração.

O veto anti-imigração, uma das primeiras medidas baixadas por Trump após sua posse, está mergulhado em interminável pendenga jurídica. O decreto inicial previa veto à entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana e suspensão no acolhimento de refugiados pelos EUA por 120 dias, entre outros.

Contestado judicialmente em vários Estados, será analisado pela Suprema Corte em outubro.

Na semana passada, Trump pulou a cerca e fez um acordo com "Chuck e Nancy" para liberar recursos emergenciais para vítimas dos furacões Harvey e Irma e aumentar o teto do endividamento do governo. O republicano Mitch McConnel, líder do Senado, e o republicano Paul Ryan, líder do Congresso, foram simplesmente informados sobre o fato consumado.

Diante de críticas, Trump recorreu ao Twitter: "Republicanos, desculpem-me, mas eu venho ouvindo vocês falarem sobre "rejeitar e substituir" (o Obamacare) há 7 anos, e nada aconteceu".

Agora, para ultraje dos republicanos, Trump estaria costurando um acordo com os democratas para implementar legislação que substitua o Daca e proteja da deportação cerca de 800 mil imigrantes indocumentados que chegaram nos Estados Unidos quando eram jovens. De novo, McConnel e Ryan foram os últimos a saber.

Para conservadores, foi demais. "Anistia para ilegais" não dá para engolir.

"A base de Trump está destruída e desiludida", disse o deputado republicano Steve King.

"O presidente precisa manter suas promessas ou está tudo acabado", tuitou o âncora da Fox News Sean Hannity, um dos principais apoiadores de Trump.

"Foi para isso que vocês votaram (em Trump), para fazer Chuck Schumer feliz?", perguntou a radialista conservadora Laura Ingraham.

"A base de Trump está destruída e desiludida", disse o deputado republicano Steve King.

Trump precisa de apoio de senadores democratas para atingir os 60 votos necessários para impedir a obstrução da pauta legislativa. Mas ele não pode se esquecer de que os republicanos ainda são o seu partido e ainda controlam Congresso e Senado.

"O presidente entende que precisa trabalhar com as maiorias no Congresso para conseguir qualquer tipo de solução legislativa", disse Paul Ryan.

O recado dos republicanos está dado. No afã de fazer suas prioridades avançarem, Trump pode ter ido longe demais em seu namoro com os democratas.


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